“Fora Merkel” eram as palavras de ordem nas manifestações anti-imigração antes das eleições de 2017. Agora, com a retirada da chanceler Angela Merkel, o partido alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) fica sem seu bode expiatório favorito.

Embora pareça ter perdido apoio desde 2017, com 11% atualmente, o partido se enraizou firmemente no cenário político do país.

Hoje, porém, o “Fora Merkel” não é mais relevante, e esta sigla anti-imigração e antiestablishment precisa redirecionar sua raiva.

“A saída da chanceler é uma coisa boa, porque cria um espaço para mudanças”, disse à AFP Tino Chrupalla, um dos dois principais candidatos da AfD às eleições do próximo domingo, 26 de setembro.

“Mas as consequências da era Merkel vão pesar sobre a Alemanha por muito tempo”, frisou, acrescentando que “Angela Merkel continuará sendo a pior [chanceler] da história alemã”.

A AfD culpa Merkel pela “imigração ilegal em massa” ao país, após sua decisão, em 2015, de deixar as fronteiras alemãs abertas aos refugiados que fugiam da Síria e do Iraque. Também responsabiliza a ainda chanceler pelo “caro” abandono da energia nuclear e pelos “resgates financeiros intermináveis” aos países do sul da Europa.

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– “O mal personificado” –

Fundado em 2013 como um partido antieuro, o AfD aproveitou a xenofobia e o sentimento anti-islâmico, especialmente na ex-Alemanha Oriental, para angariar 12,6% dos votos em 2017.

Com as mudanças nas prioridades políticas no país, o partido precisará se reinventar.

“Esse período de personalização acabou”, diz Chrupalla. “Agora, devemos atacar a agenda política do globalismo, mesmo que não tenha nome”, completou.

“Não se trata de Merkel como pessoa, mas do sistema que ela representa”, afirma Christoph Berndt, chefe do Zukunft Heimat (Pátria do Futuro), um grupo de extrema-direita de Brandenburg, antigo estado da Alemanha Oriental.

“Podemos facilmente substituir ‘fora Merkel’ por ‘fora Laschet’, ‘fora Scholz’, ou ‘fora Baerbock'”, comenta, referindo-se aos três principais candidatos para substituir Merkel como chanceler: Armin Laschet, da CDU de Merkel; Olaf Scholz, dos social-democratas de centro-esquerda (SPD); e Annalena Baerbock, dos Verdes.

Para ele, o movimento terá alcançado seu objetivo apenas “quando suas decisões políticas forem revertidas, e Merkel for considerada política e, se necessário, legalmente responsável”.

“Ao não fechar as fronteiras alemãs em 2015, quando os refugiados chegaram à Alemanha pela Hungria e pela rota dos Bálcãs, Merkel se tornou o mal personificado para a extrema-direita alemã”, explica Jan Riebe da fundação antirracista Amadeu Antonio.

– Antissistema –

O lema “Fora Merkel” era “mais um lema contra o sistema do que contra a pessoa e será transferível para algo mais abstrato”, concorda Miro Dittrich, especialista do observatório da extrema-direita CeMAS.

“Pode não funcionar tão bem quanto ter Merkel como bode expiatório, mas certamente não levará a um enfraquecimento duradouro da extrema-direita”, diz Riebe.


“A Alemanha continuará a ser descrita como uma ditadura, e Scholz e Laschet, como representantes do sistema Merkel. E, se Baerbock se tornar chanceler, o ódio de alguns pode transbordar”, acrescenta.

Além das personalidades, a AfD também terá de repensar sua abordagem a respeito da migração.

De acordo com uma pesquisa recente do jornal Bild, apenas 20% dos alemães consideram a migração uma prioridade, muito atrás da proteção do clima (35%), ou previdência (33%).

Além disso, a AfD foi afetada por disputas internas entre sua ala mais radical e aqueles a favor de uma linha mais moderada.

Os esforços do partido para atrair eleitores do movimento antimáscara na Alemanha, com membros se reunindo contra as medidas antivírus, também não renderam muitos frutos até o momento.


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