Divulgação

Agricultora Quitéria Alves de Araujo, 37, mora na comunidade de Caraibeirinha, na cidade de Inajá, no sertão pernambucano. A região é quente, seca e pode ficar mais de seis meses sem uma boa chuva para adubar o chão de terra batida e garantir abundância de água para uso doméstico e para a agricultura. Mas essa dificuldade foi superada por Quitéria no ano passado, quando ela passou a utilizar o Sistema Integrado de Produção de Alimento, o Sisteminha. O esquema utiliza o mínimo espaço disponível e pouco dinheiro, além de garantir uma produção regular. “Aqui era assim, a gente dependia da chuva para plantar o milho e o feijão”, diz Quitéria. Agora, os alimentos consumidos pela família saem do quintal para a mesa, tudo sem agrotóxicos: tilápia, verduras, legumes, ovos, galinha. “Hoje temos fartura”, conta.

Divulgação

Quinze módulos

O equipamento de nome singelo nasceu em 2002 na Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, por iniciativa de Luiz Carlos Guilherme, zootecnista e pesquisador da Embrapa. A intenção era fornecer um equipamento de combate à fome de fácil acesso e simples de usar. O núcleo do sistema é o tanque de água para criação de peixes. O Sisteminha pode ser composto por quinze módulos que se complementam e podem ser montados em vários formatos e sofrer adequações de acordo com o local de instalação. Por causa da água, esses módulos “conversam entre si”, de modo que o resíduo que sai de um módulo é utilizado como recurso ou insumo para a outra atividade. Guilherme explica que uma unidade mínima do Sisteminha tem um tanque para criação de 150 peixes, um galinheiro para vinte aves, uma pequena área para compostagem, um minhocário e uma plantação de vegetais que inclui além das hortaliças, legumes, tubérculos e frutas.

No quintal de Karla Caetano, 45, também agricultora familiar, moradora da cidade goiana de Flores de Goiás, o Sisteminha completou cinco anos e a família tem farta produção de alimentos, inclusive mel de abelha. “Temos alimentação saudável o ano todo”, diz. O segredo para a produção está no biofiltro do tanque que trata a água de forma física, filtrando partículas orgânicas produzidas pelos peixes, e biológica, para livrar a água de amônia. A cada quinze dias, dependendo do tamanho e da idade dos peixes, retira-se do tanque o conteúdo sólido que é direcionado para a compostagem, liberando grande quantidade de nutrientes para as plantas. Guilherme explica que ao se irrigar os vegetais com essa água o produtor faz uma “fertirrigação”. “Essa água é rica em nutrientes e minerais”, diz. O Sisteminha funciona muito bem e além de já estar presente em onze estados brasileiros, funciona hoje em sete países da África.