No capítulo do remake da novela “Vale Tudo”, da TV Globo, exibido no último dia 6 de setembro, a personagem Odete Roitman, vivida por Débora Bloch, foi flagrada lendo O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero. A cena rapidamente repercutiu nas redes sociais e provocou um aumento significativo nas vendas do livro, que passou a figurar entre os mais procurados do país.
Publicado no Brasil pela editora Todavia em 2023, O Perigo de Estar Lúcida traz a reflexão da autora espanhola sobre a relação entre criatividade e instabilidade mental. A obra combina elementos de ensaio e ficção, apoiando-se tanto na experiência pessoal de Montero quanto em estudos de psicologia, neurociência, literatura e relatos de grandes escritores, artistas e pensadores.
Com 272 páginas, o livro oferece uma exploração detalhada sobre o funcionamento do cérebro durante o processo criativo, destacando fatores que influenciam a produção artística. A abordagem sobre o vínculo entre genialidade e loucura dialoga diretamente com a personagem Odete Roitman, famosa por sua personalidade complexa e intrigante.
Disponível na Amazon por R$ 53, o livro recebe 77% de avaliações consideradas ótimas. Segundo uma leitora, “a obra aborda a conexão entre criatividade, psicologia e solidão, especialmente em quem trabalha em áreas criativas. A autora alterna relatos pessoais com histórias de outros escritores, mostrando como a criatividade muitas vezes se aproxima da instabilidade emocional e mental.”
A presença de O Perigo de Estar Lúcida na novela não só alavancou suas vendas como também despertou a curiosidade de leitores interessados em compreender os limites entre a genialidade e a vulnerabilidade mental.
O livro
O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero, combina ensaio, narrativa pessoal e ficção para explorar de forma profunda a relação entre criatividade e saúde mental. A autora parte de sua própria vivência com crises de pânico para ampliar a reflexão, incorporando pesquisas científicas e histórias de escritores famosos que também lidaram com transtornos psíquicos.
Montero desafia a noção de “normalidade”, mostrando que ela é mais uma construção cultural e social do que uma realidade objetiva. Ela propõe que artistas, muitas vezes rotulados como “loucos”, podem simplesmente ter uma maneira diferente de perceber e interagir com o mundo. Segundo a autora, experiências intensas e, por vezes, dolorosas são frequentemente catalisadores da criatividade, podendo gerar tanto sofrimento quanto expressão artística.
A obra também discute a forma como a sociedade encara a saúde mental, especialmente no caso das mulheres, historicamente mais sujeitas a diagnósticos psiquiátricos e ao confinamento em instituições. Montero sugere que a repressão da expressão feminina e a pressão para se conformar a padrões rígidos contribuem para o sofrimento mental, mas paradoxalmente também podem alimentar a produção artística.
No plano estilístico, Montero utiliza uma linguagem clara e envolvente, mesclando reflexões profundas com experiências pessoais e referências literárias. Isso faz com que a leitura seja informativa e emocionalmente impactante, permitindo ao leitor uma conexão genuína com as ideias e vivências apresentadas.
Em suma, O Perigo de Estar Lúcida convida a uma reflexão sobre a complexa interação entre mente, sofrimento psíquico e criatividade. Rosa Montero oferece um olhar único e intimista sobre como nossas experiências internas moldam a arte e a expressão humana.