O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), presta novo depoimento à PF (Polícia Federal) nesta segunda-feira, 11. O militar precisa esclarecer ao menos três questionamentos das autoridades, após a obtenção de novas informações durante a operação Tempus Veritatis, que investiga tentativa de golpe após o resultado das eleições de 2022.

Mauro Cid deixou a prisão em setembro de 2023 após firmar acordo de delação premiada com as forças de segurança. As informações concedidas pelo militar possibilitaram a deflagração da operação Tempus Veritatis, que teve início em fevereiro deste ano.

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Um dos questionamentos que o militar deverá responder é referente ao depoimento dado pelo general Freire Gomes à PF em 1º de março, em Brasília. Na ocasião, o ex-comandante do Exército falou durante quase oito horas à corporação. Além de tal autoridade, as forças de segurança também ouviram o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, da Aeronáutica.

Minuta de Golpe

De acordo com informações da coluna de Míriam Leitão, do jornal O Globo, o ex-comandante do Exército teria alegado que Jair Bolsonaro tinha conhecimento da “minuta de golpe” e a apresentou pessoalmente. Na ocasião, o político supostamente declarou que o plano seria colocado em prática. Tais acusações são negadas pelo ex-presidente.

As informações providenciadas por Freire Gomes são contrárias às que Mauro Cid teria dado em depoimento. Conforme o trecho conhecido da delação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o ex-presidente supostamente recebeu a “minuta de golpe” de Filipe G. Martins, assessor de assuntos internacionais, mas não deu nenhuma opinião a respeito do documento ou da implementação de tal plano.

Mauro Cid deve esclarecer se Bolsonaro teria recebido o mesmo texto que a PF encontrou na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça. O documento era o esboço de um decreto que seria posto em prática pela Presidência da República determinando um “estado de defesa” na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com a premissa de investigar casos de abuso de poder e determinar a “lisura e correição da eleição de 2022”.

De acordo com a CNN Brasil, que teria ouvido investigadores da PF que não se identificaram, caso não contribua com a operação Tempus Veritatis, Mauro Cid pode ser preso preventivamente.

Ao G1, Cezar Bittencourt, advogado do militar, declarou que espera um depoimento tranquilo. “O delegado que conduz o caso é quem sabe as perguntas que vai fazer. De minha parte, o que posso garantir é que tudo o que Cid souber, tudo o que ele tiver conhecimento, o que conseguir explicar, ele vai fazer. Ele vai falar”, reiterou.

Reunião ministerial

Em reunião, que ocorreu em julho de 2022 e contou com a presença dos ministros do antigo governo, Bolsonaro teria antecipado que perderia a corrida eleitoral para a presidência e requisitou o acionamento de um “Plano B”. Este é outro ponto que terá de ser elucidado por Mauro Cid.

Na ocasião, o ex-presidente teria dito aos presentes que não poderiam “deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintando”. “Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, declarou Bolsonaro, citando a possibilidade de fraude na corrida presidencial de 2022.

Uma gravação da reunião foi obtida pela PF após acesso ao serviço de armazenamento na nuvem do computador de Mauro Cid. Apesar disso, o militar alega que não estava presente e nem sabia que tal conferência teria ocorrido. A falta do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro no encontro é de interesse de investigadores.

“Ele não teve comando da transmissão, não estava presente na reunião, essa informação não compete a Cid. Por que ele não estava? Não perguntei, não interessa. Era uma reunião do presidente com quem ele quis convidar”, afirmou Cezar Bittencourt em entrevista à GloboNews.

Contradição

Conforme a revista Veja, Mauro Cid teria afirmado à pessoas próximas que suas próprias delações não colocavam Jair Bolsonaro como integrante de uma tentativa de golpe de Estado, o que é uma suposta contrariedade à interpretação que a PF tem dos depoimentos.

Segundo a Veja, o militar persiste alegando que tudo não se tratava de uma especulação do que seria feito pelas autoridades em caso de fraude nas eleições de 2022, como nenhum problema na corrida presidencial foi comprovado, não houve qualquer ação “golpista”.