O Talibã, que permaneceu no poder no Afeganistão por cinco anos até 2001, trava há 18 anos uma guerra de guerrilha contra as forças armadas afegãs e as tropas internacionais que as apoiam.
O acordo histórico assinado neste sábado (29) com os Estados Unidos marca uma nova era para esse movimento islâmico radical.
– O que é o Talibã? –
É um movimento islâmico radical de credo sunita que governou o Afeganistão de 1996 a 2001, antes de ser expulso do poder pela coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Desde então, trava uma rebelião sangrenta contra as forças afegãs e ocidentais, com o objetivo de expulsar os “ocupantes” estrangeiros, derrubar o governo que não reconhecem e restaurar o “emirado islâmico”.
– De onde vem? –
O movimento surgiu no sul do Afeganistão. Representava principalmente o grupo étnico pashtun. O país estava então imerso em uma guerra civil após o colapso em 1991 do regime comunista apoiado pelos soviéticos.
Os talibãs, que prometeram restaurar a paz e a segurança, foram aclamados por uma população exausta da guerra. Rapidamente assumiram o controle de grandes áreas do país antes de conquistar Cabul em 1996 e proclamar o “Emirado Islâmico do Afeganistão”.
Em 1998, o regime controlava cerca de 90% do território, com exceção dos bolsos de resistência mantidos pela Aliança do Norte.
– Como governou? –
No poder, o Talibã foi acusado de violar os direitos humanos com a imposição estrita da “sharia”, a lei islâmica. Realizava execuções públicas, às vezes por apedrejamento, de mulheres acusadas de adultério e amputava mãos de pessoas reconhecidas culpadas de roubo.
As mulheres foram despojadas de todos os direitos fundamentais, obrigadas a permanecer trancadas em suas casas e proibidas de trabalhar ou frequentar a escola e, quando saíam, tinham de estar cobertas com a burca (véu integral).
Os homens eram obrigados a deixar barba crescer e seguir rigorosamente a prática religiosa e proibidos de todas as formas de lazer, como ouvir música.
Em 2001, o Talibã causou indignação internacional ao destruir as estátuas de Buda de Bayiman, de 1.500 anos de idade.
– Como perdeu o poder? –
O Talibã deu refúgio à Al-Qaeda, o que reforçou seu status de pária. Apenas três países, Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, reconheceram esse regime.
Em dezembro de 2001, após sua recusa em entregar Osama bin Laden após os ataques de 11 de setembro, uma coalizão liderada pelos Estados Unidos e forças da Aliança do Norte o expulsou do poder.
Milhares de combatentes deixaram Cabul em direção às províncias, enquanto seus líderes buscaram refúgio no Paquistão, particularmente na cidade de Quetta.
Desde então, o movimento empreende uma guerrilha implacável contra forças governamentais e estrangeiras, multiplicando os ataques devastadores.
– Quando começou a negociar? –
Com a benção americana, em 2013 o Talibã abriu um escritório político em Doha, no Catar, para iniciar negociações com seus principais adversários.
Mas as negociações oficiais para a retirada das forças americanas em troca de garantias de segurança dos insurgentes não começaram até outubro de 2018.
Donald Trump desistiu em setembro de um acordo bilateral que estava prestes a ser assinado após um ataque que matou um soldado americano.
A assinatura do acordo aconteceu neste sábado, após uma trégua parcial, efetiva desde 22 de fevereiro.
O acordo contempla negociações subsequentes entre o Talibã e o governo afegão, oposição e sociedade civil.
– Quais são suas forças? –
As estimativas variam entre 25.000 e 60.000 combatentes. O movimento sofreu enormes perdas durante o conflito, estimado em centenas de milhares de mortes.
O movimento pode contar com uma reserva quase inesgotável de recrutas afegãos e paquistaneses de escolas religiosas do grande vizinho do Afeganistão.
Os talibãs aumentaram progressivamente seu controle e influência sobre as grandes áreas rurais do país. Controlam ou disputam com o governo metade do território afegão.
Em setembro de 2015, tomaram brevemente Kunduz, capital de uma província do norte, um evento sem precedentes desde 2001.
Desde então, fizeram outras tentativas, especialmente em Ghazni e Farah em 2018, e novamente em Kunduz em 2019, mas sem sucesso.