Sônia Vidal di Maio, que atua como arquiteta do departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, e Nadia Kojio, que trabalha como historiadora e coordenadora do Arquivo Público de São José dos Campos, foram designadas para cuidar do processo de restauração da igreja de São Benedito, localizada na praça Afonso Pena, no centro de São José dos Campos, interior de São Paulo, e encontraram uma ossada dentro de uma parede. As informações são do UOL.
Ao saber do ocorrido, Vitor Chuster, que era na época diretor do departamento de Patrimônio Histórico, solicitou à Nadia que descobrisse mais informações sobre o caso.

Então ela apurou que a ossada era do capitão Miguel de Araújo Ferraz. No século 19, ele concedeu as suas terras para a Irmandade de Nossa Senhora do Rósario, que construiu uma igreja com o mesmo nome da santa. Por isso, ele ganhou o direito de ser sepultado em solo santo, algo que era comum na época.

Não há informação a respeito da data em que o capitão Miguel morreu. Um livro histórico de 1934, chamado “Albúm de São José”, relatou que o corpo foi encontrado pela primeira vez após a demolição da igreja de Nossa Senhora do Rosário, em 1879. “No fundo do corredor, ao lado da nave, estava a sepultura do sr. cap. Miguel de Araújo Ferraz […]. Com a demolição da igreja, tratou-se da remoção dos despojos, para o que foi aberto o túmulo, encontrando-se o corpo mumificado e tendo os cabelos em perfeito estado.”

Depois, o capitão Miguel foi levado para a igreja de São Benedito e enterrado em uma das paredes de taipa. Existem boatos de que nessa época era possível ver a silhueta do corpo na parede. Por isso, a família resolveu colocá-lo dentro de uma espécie de urna.

No novo local onde Miguel foi enterrado não possuía qualquer tipo de marcação. A sua ossada só foi encontrada novamente em 2010 pela arquiteta Sônia Vidal di Maio e a historiadora Nadia Kojio.

Por que Miguel foi enterrado em pé?

No primeiro sepultamento, o capitão Miguel foi enterrado em pé, o que era considerado um sinal de prestígio para os católicos.

Naquela época, as pessoas consideradas importantes eram enterradas dessa maneira pois acreditava-se que o último local de repouso deveria ser próximo dos santos. Por isso, ser sepultado dentro da igreja era sinônimo de status social. Quanto mais prestígio e riqueza o indivíduo tinha, mais perto do altar ele ficaria depois de morrer.

O escritor Francisco de Assis Vieira Bueno informou que esse tipo de enterro, realizado até o século 19, preenchia as igrejas de um ar maléfico e expunha as mulheres, que ficavam horas sentadas nesses locais, a todo tipo de infecção.

Por conta disso, uma carta redigida no ano de 1801 passou a proibir esse tipo de sepultamento. A mesma medida determinou a construção de cemitérios.

Contudo a Câmara de São Paulo só aderiu a essa determinação em 1850. No mesmo ano foi construído o Cemitério da Consolação, localizado na região central da capital paulista.