Novos casos de picadas de escorpiões têm sido registrados em diversas regiões do Brasil, especialmente nas áreas urbanas. No estado de São Paulo, mais de 26 mil ocorrências e dois óbitos foram registrados até agora, segundo o Núcleo de Informações Estratégicas em Saúde (NIES). No Distrito Federal, mais de 23 mil casos foram registrados – um aumento de 43,75% em relação a 2024, de acordo com a secretaria do Estado. Já em Goiás, mais de 5 mil pessoas foram picadas e duas morreram por envenenamento em 2025, conforme levantamento do governo estadual.
Um estudo brasileiro, publicado em maio deste ano na revista Frontiers in Public Health, projetou que mais de 2 milhões de ocorrências de escorpiões devem ser registradas entre 2025 e 2033 no país – o que se deve em parte à urbanização, assim como às condições ambientais inadequadas dos grandes centros.
“O acúmulo de lixo e entulho e o saneamento básico limitante favorecem a presença e disseminação do escorpião. Além disso, a ausência de predadores naturais e a oferta de baratas (principal alimento dos escorpiões) em excesso podem explicar o aumento”, detalha o biólogo e tecnologista do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, Paulo Goldoni.
Os escorpiões são animais com hábitos noturnos e costumam se esconder em entulhos, materiais de construção, folhagens densas, calçados e roupas. As picadas são mais recorrentes nas extremidades do corpo, como dedos das mãos e dos pés, além das pernas e braços. A seguir, veja como evitar o surgimento desses aracnídeos em casa e o que fazer em caso de picadas.
Sintomas da picada de escorpião
A picada de escorpião pode causar uma série de sintomas, como dor intensa, sensação de ardência, inflamação no local da picada, vômitos, sudorese e falta de ar.
Segundo Ceila Malaque, médica do Hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan, as crianças e os idosos são os mais vulneráveis: “os idosos podem ter alguma morbidade ou alguma patologia prévia que pode fazer com que a picada de escorpião evolua com maior gravidade. Já as crianças são mais vulneráveis ainda e, quanto menores, mais graves os casos”.
Segundo a especialista, uma das hipóteses que explicam essa maior vulnerabilidade no público infantil é porque o veneno, ao ser introduzido no corpo menor, circula mais rapidamente e tem um impacto proporcionalmente maior na massa corporal de uma criança.
Medidas preventivas
Algumas medidas podem ser tomadas para reduzir ou tentar evitar a presença de escorpiões na sua casa, como recomenda o biólogo Paulo Goldoni:
Manter jardins e quintais limpos;
Evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e material de construção;
Vedar as soleiras das portas e janelas quando começar a escurecer, pois estes animais, na sua maioria, apresentam hábito noturno;
Tampar todos os buracos em paredes, assoalhos, vãos entre o forro das paredes e consertar rodapés despregados e colocar telas nas janelas;
Deixe os sacos de lixo bem fechados para evitar insetos, principalmente baratas, que atraem os escorpiões.
O que fazer em caso de picada
Em caso de picada de escorpião, a indicação imediata é higienizar o local da picada e procurar um hospital de referência para conseguir o soro antiveneno. “A orientação vale tanto para aqueles que têm um quadro local, como dor, como para pacientes que começam a vomitar, têm falta de ar e outras manifestações sistêmicas”, recomenda a médica Ceila Malaque. “O objetivo do soro (também chamado de soro antiescorpiônico) é neutralizar a ação do veneno”, completa a médica do Hospital Vital Brazil.
Os soros antivenenos são distribuídos pelo SUS para hospitais públicos e privados, porém não são todas as unidades que oferecem o tratamento. O site do Ministério da Saúde disponibiliza uma lista com os hospitais de referência para atendimento de acidentes com animais peçonhentos.
É importante também alertar as autoridades da presença do animal, como indica o biólogo do Butantan, Paulo Goldoni: “o correto é colocar o aracnídeo em um vidro com álcool e acionar o Centro de Controle de Zoonoses do município. A notificação é essencial, pois só assim as políticas públicas de controle podem ser tomadas, como o mapeamento da distribuição dos escorpiões no municipio”.
O que não fazer em caso de picada
Além de buscar o atendimento médico, o mais importante é evitar práticas e soluções caseiras, pois elas podem agravar o caso, como alertam os especialistas ouvidos pela IstoÉ:
não coloque gelo ou compressa fria, pois pode piorar a dor;
não passar qualquer tipo de substância no local da picada como álcool, pasta de dente ou pó de café;
não fazer torniquete ou garrote próximo à picada;
não fazer sucção com a boca no local da picada.
Como proteger os pets
Apesar de mais raro, os animais da casa também podem sofrer acidentes com escorpiões. No entanto, não existe soro veterinário disponível para picadas de escorpião em cães e gatos. Nesses casos, o tratamento é feito com base nos sintomas, como dor, que pode ser severa e persistente, inchaço e vermelhidão. A recomendação é levar o animal para o veterinário o quanto antes e evitar soluções caseiras.