Passados dois mil anos, um templo erguido entre os séculos 1 e 2 da era cristã resiste parcialmente na cidade histórica de Évora, no Alentejo, Portugal. A construção original sofreu alterações, quase foi destruída quando povos bárbaros invadiram a Península Ibérica no século 5 e resistiu a abalos sísmicos intensos, incluindo um tremor recente que atingiu 4,4 graus na escala Richter. A história que ela conta, porém, acaba de ser reescrita. Na terça-feira 26, os arqueólogos alemães Theodor Hauschild e Felix Teichner apresentaram na sede da Fundação Eugénio de Almeida, quase vizinha ao templo, uma nova versão sobre o que teria motivado os romanos a erguê-lo. A pesquisa teve início em 1982 e só agora foi concluída. Segundo os pesquisadores, a edificação foi “claramente realizada” para o culto a Augusto, que liderou o Império Romano de 27 a.C. até sua morte, em 14 d.C. Com o passar do tempo, contudo, criou-se uma lenda segundo a qual o templo seria dedicado a Diana, filha de Júpiter e deusa da caça na mitologia romana.

Patrimônio mundial

O templo é um dos mais grandiosos e mais bem preservados monumentos romanos em toda a Península Ibérica e desde 1986 pertence ao Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). As escavações dos arqueólogos alemães iniciadas na década de 1980 trouxeram novos e surpreendentes dados. Entre eles, a constatação de que a estrutura segue “o modelo escolhido para os templos do imperador Trajano e do imperador Adriano”. A evolução dos trabalhos, agora com recursos como tecnologias em três dimensões (3D), permitiram perceber a arquitetura do monumento e sua qualidade construtiva “absolutamente notável”, segundo Ana Paula Amendoeira, diretora regional de Cultura do Alentejo. A confirmação de que se trata de um templo dedicado a Augusto está na monografia de Theodor Hauschild e Felix Teichner, editada pelo Instituto Arqueológico Alemão e que em breve ganhará versão em português.