SÃO PAULO (Reuters) – A safra de laranja 2023/24 da área citrícola de São Paulo e Minas Gerais, onde está situada a indústria exportadora do Brasil, foi estimada nesta quarta-feira em 309,34 milhões de caixas de 40,8 kg, queda de 1,55% ante temporada anterior, de acordo com o primeiro levantamento da entidade de pesquisas Fundecitrus para a nova temporada.

A estimativa indica que a oferta de suco de laranja do Brasil, o maior produtor e exportador global, seguirá apertada no mercado internacional, disse o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, à Reuters.

“Essa será a terceira safra consecutiva com patamares mais baixos de produção. Embora o número de pés produtivos mostre um potencial produtivo bem acima do apurado, fatores como clima e doenças têm sido limitadores dessa oferta que se distancia cada vez mais dos eventos de supersafras que até poucos anos atrás eram relativamente comuns”, comentou Netto.

Os preços na bolsa da Nova York estão sendo negociados próximos dos maiores patamares da história, após o contrato julho ter batido máxima de quase 2,80 dólar por libra-peso ao final de abril, com o mercado norte-americano também reagindo a uma baixa histórica na safra da Flórida.

“Vivemos um momento de oferta muito ajustada, que talvez nunca tenha existido igual na história recente, pelo menos nos últimos 20 anos. Isso traz desafios e oportunidades”, afirmou Netto, ao ser questionado se os preços altos poderiam estimular novas áreas citrícolas.

Também nesta quarta-feira, a CitrusBR divulgou que os estoques globais de suco de laranja brasileiro de posse das associadas da CitrusBR eram de 434.943 toneladas em 31 de dezembro de 2022, queda de 14,5% ante mesma data de 2021.

DOENÇAS PESAM

Apesar de chuvas que favorecerem o desenvolvimento dos pomares em 23/24 na principal área produtora do maior exportador global de suco de laranja, doenças como o greening e a podridão floral estão limitando o potencial produtivo, disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, durante apresentação mais cedo.

Segundo ele, a principal região produtora do Brasil fica assim cada vez mais distante das 380 milhões de caixas vistas no passado.

“Temos o problema do greening, onde a doença entrou e se instalou, ela dizimou a citricultura”, disse Ayres, citando ainda a questão que tem reduzido a safra da Flórida, nos Estados Unidos.

Segundo ele, é preciso agir, uma vez que a principal causa da persistência do greening é a manutenção da planta doente, em momento em que há um “afrouxamento no controle do inseto vetor” da doença.

Ele citou ainda que foi detectada alguma resistência do inseto a alguns inseticidas.

Na safra anterior, a doença foi a segunda maior responsável pela queda de frutos, representando mais de um quarto do índice total de 21,30%.

Por conta dessa conjuntura, a taxa de queda está projetada em 21% semelhante à do ano anterior, disse a fundação de pesquisas.

O Fundecitrus afirmou ainda que uma das causas da queda na produção é o ano de baixa do ciclo bienal dos laranjais.

“Assim, enquanto na safra anterior o número médio de frutos por árvore aumentou em cerca de 5%, nesta ocorreu uma queda na mesma proporção.”

ESTOQUE DE CARBONO

Neste ano, a pesquisa de safra trouxe os dados inéditos e preliminares da quantificação do estoque de carbono gerado tanto nos pomares de laranja quanto nas áreas destinadas à preservação da vegetação nativa das propriedades rurais, um território de aproximadamente 600 mil hectares.

A conclusão inicial é que em todo o parque citrícola há um estoque de aproximadamente 36 milhões de toneladas de carbono, o que mostra que a importância das áreas agrícolas para a mitigação das mudanças climáticas, disse o pesquisador da Embrapa Territorial, Lauro Rodrigues Nogueira Junior, coordenador do levantamento.

(Por Roberto Samora)

tagreuters.com2023binary_LYNXMPEJ490NK-VIEWIMAGE