Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – Depois de amargarem quedas de área e produção na safra passada devido a um atraso na colheita de soja, os produtores de algodão do Brasil veem um cenário muito positivo para a pluma em 2021/22, cujo plantio está em vias de se encerrar diante preços em ascensão.

Na SLC Agrícola houve um crescimento de 38% nas lavouras da cultura, para 177,8 mil hectares, disse à Reuters o diretor de Operações, Leonardo Celini.

“Na área de algodão que plantamos em Mato Grosso, com mais de 80 mil hectares, temos expectativa de boas produtividade e o clima está mostrando boas condições”, afirmou o executivo.

Já o diretor de Produção da Bom Futuro, Inácio Modesto Filho, disse que, por ter sido um ano em que choveu mais cedo em Mato Grosso e o plantio da soja ter começado na primeira quinzena de setembro, até o final deste mês todo o milho e o algodão da empresa estará plantado em um cenário “espetacular”.

No caso do algodão, ele disse que a expectativa é encerrar a semeadura nas fazendas do grupo até a próxima semana. A área da Bom Futuro destinada à cultura passou de 147 mil hectares para 170 mil hectares, no comparativo anual.

Modesto também destacou que chuvas em Mato Grosso postergaram um pouco o fim do plantio, inicialmente projetado para a semana passada, mas houve períodos de muito sol em janeiro que permitiram acelerar a colheita da soja e semear muito algodão.

Com isso, a produtividade esperada pela Bom Futuro é de 135 arrobas por hectare, ligeiramente acima das 133 arrobas por hectare registradas no ciclo anterior e em uma área maior.

Para o executivo da SLC, até mesmo em outras regiões onde a pluma é cultivada na primeira safra, como “algodão verão” em Goiás, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Bahia, há pleno desenvolvimento da cultura e as lavouras estão caminhando “muito bem”.

O diretor de Produção Agrícola da Amaggi, Pedro Valente, afirmou que a companhia aumentou em 30 mil hectares o plantio de algodão, para 150 mil hectares, em 2021/22. Para a próxima safra está planejada mais uma elevação de 30 mil.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou nesta quarta-feira alta de 15% para a produção da pluma no Brasil, a 2,71 milhões de toneladas. A área foi projetada em alta de 12%, para 1,5 milhão de hectares.

No ciclo anterior, o país havia recuado 21,5% em produção e 17,7% em área porque, segundo a Conab, diversos produtores deixaram de plantar quando a janela foi perdida após o atraso na colheita da soja.

PREÇOS E PROJEÇÕES

O mercado global e o recuo na oferta da última temporada no Brasil, no entanto, traduziram-se em um salto nos preços, o que ajudou na recuperação de área na safra atual e ainda pode impulsionar os planos de plantio para 2022/23.

“A demanda ficou aquecida e no ano passado o Brasil produziu menos. Esse ano acredito que o país possa chegar a 3 milhões de toneladas e com possibilidade de preços melhores”, estimou o executivo da SLC.

Segundo a Conab, em 1º de janeiro de 2021, a cotação média da arroba da pluma em Mato Grosso estava em 120,93 reais, e em 1º de fevereiro de 2022 a cotação foi de 227 reais, valorização de 87%.

“A despeito da forte elevação dos custos de produção, a rentabilidade é extremamente atrativa para o produtor”, acrescentou a estatal sobre o ciclo atual.

O diretor da Amaggi afirmou que a rentabilidade em Mato Grosso está muito favorável, pois os insumos utilizados nesta safra foram adquiridos ano passado, a preços mais baixos, e as vendas estão sendo realizadas a valores maiores do que o esperado.

“Tudo indica que teremos preços remuneradores para toda a cadeia… Ao menos nas próximas duas safras, não vejo o algodão perder espaço para outras culturas, como soja”, disse ele, mesmo em um ambiente de margens mais apertadas para 2022/23, devido à pressão de custos com insumos.

Na Amaggi, cerca de 75% do algodão que está sendo plantado em 2021/22 já foi comercializado, e outros 30% da próxima safra também.

“Não vejo um estouro de preços… (porque) não só está voltando o Brasil com áreas, quanto outros países aumentando… mas a China está voltando a consumir”, disse Valente.

“Apesar da pressão de custos, a safra atual será excelente e a que vem ainda será boa, em termos de rentabilidade”, completou.

(Por Nayara Figueiredo)

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