Ficou impensável desconsiderar o bem-estar animal nas últimas décadas. Basta ver a proibição das atrações em circos (no Brasil, em 13 estados), as discussões sobre testes laboratoriais, já proibidos no País, e a proporção de influenciadores ativistas que tomam as mídias sociais com denúncias de maus-tratos. Ir ao zoológico já não pega tão bem. Debaixo da aura de conscientização, iniciativas de turismo sustentável se destacam entre empresas que já realizam uma atividade considerada o oposto do assunto: os safáris. Nada de banquetes com carne no final do dia, passeios longos que estressam os bichos e carros movidos a óleo diesel.

Os safáris veganos crescem em países africanos e atraem cada vez mais adeptos da observação da fauna, da preservação dos recursos naturais e, claro, da dieta que dá nome ao serviço. Até a Peta, organização mundial de defesa dos animais, premiou cinco empresas que realizam as rotas específicas.

Carro elétrico: o uso de veículos movidos a energia solar contribui para menor impacto (Crédito:Divulgação)

O surgimento do safári de baixo impacto tem motivo. Desde 2019, o interesse pelas versões sustentáveis aumentou 16,33%, segundo relatório anual do site go2africa.

Em investidas mais suaves, as prioridades básicas são:
* fazer fotografias,
* manter distância dos bichos,
* realizar incursões em determinados horários do dia.

Os mais sensibilizados ainda podem trabalhar em santuários de órfãos e plantar árvores nativas, e participar de trilhas com estudo do ecossistema e de eventos pela proteção de espécies ameaçadas. Imersão na cultura típica também está inclusa nas rotas que dão suporte às comunidades locais.

Cada detalhe importa dentro das áreas de reserva e parques nacionais, onde veículos elétricos substituem os movidos a combustíveis fósseis e luzes vermelhas são usadas em lugar dos holofotes nas saídas noturnas.

Nas pousadas verdes incrustadas na mata ainda há plástico reutilizável, produtos de higiene biodegradáveis e cardápios com vegetais locais e orgânicos. Móveis de couro, cabeças empalhadas e chifres na parede não são troféus nas hospedagens da nova viagem.

Educativo: turistas aprendem sobre ecossistema local
Orgânicos: menu das pousadas traz cardápio vegetal com produtos locais
Respeito: proximidade à fauna traz consciência sobre preservação (Crédito:Divulgação)

Decisão elegante

Existem críticas em torno da prática que leva turistas a atravessarem o Atlântico atrás da fauna selvagem, já que 63% dos viajantes são norte-americanos, de acordo com a mesma pesquisa. Pegada de carbono e impacto dos veículos no solo, causando erosão, são alguns dos argumentos contra os safáris em geral.

Outro é que, por mais que os tours veganos estejam em ascensão, eles ainda não são para todos. _“Há uma crítica sobre as viagens dos muito ricos, como as de submarino e as espaciais. Hoje, cruzeiros para a Antártida custam de 20 a 30 mil dólares por pessoa”_, diz Luiz Trigo, professor titular de Turismo da EACH-USP. Segundo o documento do go2africa, uma pessoa gasta de 5 a 6 mil dólares apenas com o pacote para visitar a selva africana.

Há quem acredite que, se os safáris existem, que sejam ecológicos. Em Botswana e Zâmbia, o empresário David Forward subverteu os passos do pai caçador. “Na África, eles descobriram que um elefante vale muito mais vivo do que morto, porque vai ser fotografado milhares de vezes”, fala Trigo.

Hoje, Forward leva grupos pequenos, de até seis pessoas, para cuidadosas observações na natureza e não mantém alojamentos próprios, fazendo parcerias com acampamentos locais de acordo com a demanda.

Trigo lembra que o safári vegano vai ao encontro do conceito de capacidade de carga, que diz respeito às visitas que uma área pode suportar sem que haja alterações no ambiente físico e social. “Se antes as pessoas viam isso como frescura, com o aquecimento global elas estão entendendo que precisam ter uma relação holística com o planeta, para evitar danos ambientais”, acrescenta ele.

“Fazer uma viagem sustentável começa a ser elegante.”
Luiz Trigo, professor titular de Turismo da EACH-USP

Propósito: corrida pelos rinocerontes na programação (Crédito:Divulgação/kings camp)