SAF no Brasil: confira balanço dos principais clubes que aderiram ao modelo

Cada vez mais presente no futebol brasileiro, as Sociedades Anônimas do Futebol, as famosas SAFs, estão em ritmo de crescimento no País. Até o fim do ano passado, 63 times há haviam adotado o modelo de gestão e mais dois clubes – Portuguesa e Santa Cruz – finalizaram o processo no início de 2025.

Desta lista, oito times disputaram a última edição da Série A do Campeonato Brasileiro. E seis estiveram na Série B na temporada passada. Somente os estados do Acre, Alagoas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí e Rondônia não possuem clubes-empresa.

“A SAF é um caminho de reestruturação para as equipes, que já estão começando a serem retribuídas por este investimento. O exemplo mais claro é do Botafogo e, agora, mais recentemente o Cruzeiro, dois clubes que passaram por muitas dificuldades em sua história recente, e que agora estão recuperando seu melhor momento. Acredito que o crescimento desse modelo só vai aumentar daqui para frente”, opina José Francisco Manssur, coautor da lei das SAFs.

Entre os times que disputaram o Brasileirão da última temporada, o primeiro a adotar o sistema de clube-empresa foi o Cuiabá, que utiliza o modelo desde a fundação, em 2001, e concretizou a prática em 2009, ao ser vendido para o Grupo Dresch. Apesar da queda para a Série B em 2024, a equipe acumulou boas sequências, chegando até uma classificação histórica aos playoffs da Copa Sul-Americana.

“Desde que a gestão assumiu o comando do Cuiabá, em 2009, o clube passou a operar como uma empresa. Nossas grandes conquistas são os investimentos feitos ao longo dos anos, o êxito de conseguir estabelecer uma estrutura de qualidade para os atletas. Com isso, conseguimos resultados históricos para a agremiação, que trouxeram de volta coisas boas, como poder negociar melhores acordos em todas as áreas”, diz Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá.

Levando em conta os principais times do país, o Cruzeiro foi o pioneiro. Em 2021, o clube mineiro foi adquirido por Ronaldo Fenômeno, que “resgatou” uma equipe atolada em dívidas e na disputa da Série B. Depois de três anos no comando da agremiação, o ex-jogador vendeu sua parte para o empresário Pedrinho BH. Desde então, a equipe mineira tem recebido aportes que ultrapassam os R$ 100 milhões em contratações com o intuito de retomar o protagonismo no Brasil.

Em 2022, o futebol brasileiro conheceu outras duas SAFs, o Vasco foi vendido para a 777 Partners com a promessa de receber R$ 700 milhões em investimentos e o Botafogo foi adquirido por John Textor. No primeiro caso, a relação nunca foi boa e o clube nunca recebeu os valores prometidos, entrando com ação para retomar o controle em 2024. Atualmente, o time carioca segue em busca de um investidor para assumir parte das ações.

“O modelo das SAFs já se mostrou extremamente efetivo no Brasil, porém é importante pontuar que este nem sempre será o caso. Pudemos observar isso com o Vasco, que gastou mal e praticamente não recebeu nada em retorno. A escolha da venda tem de ser feita com muito cuidado e paciência, se não, o investimento fracassa, e o principal prejudicado segue sendo o clube”, afirma

o COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana.

Do outro lado do Rio de Janeiro, o Botafogo é no momento o caso de maior sucesso das SAFs no País. Com investimentos que superaram R$ 300 milhões, o clube chegou a conquista inédita da Copa Libertadores e ao tricampeonato brasileiro depois de bater na trave em 2023. A tendência é que os altos valores continuem, dado que o time perdeu peças importantes, incluindo o técnico, e pretende se manter como favorito neste ano.

Outra SAF que também sempre se destaca é o Fortaleza, que adotou o modelo em 2023. Antes mesmo de se tornar empresa, o clube já tinha um bom trabalho administrativo e atualmente opera de forma diferente das demais. O CEO é Marcelo Paz, que antes presidia a agremiação, e 100% das ações ainda pertencem à associação, sem nenhuma instituição envolvida. A intenção é vender partes do montante, mas sem que o time cearense passe a ter um dono.

“Nossa escolha pelo modelo de Sociedade Anônima do Futebol veio de acreditarmos que é um investimento com um excelente retorno, que tem tudo para consolidar este bom momento do Fortaleza. O clube está sempre em busca de maneiras de continuar crescendo e lutando por mais conquistas, através de uma estrutura profissionalizada, e uma gestão sustentável”, afirma Marcelo Paz.

Entre os que ainda buscam se estabelecer aparece o Bahia. Vendido para o Grupo City, o mesmo que controla o Manchester City, em 2023, o clube já recebeu grandes investimentos e iniciou os trabalhos com bons resultados na primeira metade da última temporada. O desempenho, no entanto, caiu ao longo do ano, mas a equipe ainda assegurou uma vaga na fase preliminar da Libertadores. Com a meta de alçar voos maiores em 2025, novas contratações devem ser realizadas.

O Atlético-MG é outro que ainda busca encontrar sua melhor forma depois de ter sido adquirido em 2023 pela Galo Holding, sociedade formada por empresários que atuavam como mecenas do clube anteriormente. Apesar de chegar nas finais da Copa do Brasil e da Libertadores, o ano decepcionou a torcida, que esperava mais do que um Campeonato Mineiro.

A tendência é que o clube mineiro faça menos investimentos para 2025, pois acumula uma dívida de aproximadamente R$ 2 bilhões (contando custos da Arena MRV) e não se classificou para a Libertadores, tendo encerrado o Brasileirão somente na 12ª posição.

“Desde a chegada das SAFs, houve um grande aumento de investimento financeiro nacional e internacional nas equipes brasileiras. Essa entrada ajuda os clubes a se estabilizarem financeiramente, e também é um passo para um crescimento sustentável ao longo dos anos. Acredito que as SAFs, se tiverem uma boa gestão e transparência, podem mudar o panorama esportivo brasileiro, e o tornar cada vez mais atraente para investimentos de todo o mundo”, diz Fernando Lamounier, chefe de Marketing da Multimarcas Consórcios, empresa que patrocina o Atlético.