Considerado uma lenda do futebol à beira do gramado, Arrigo Sacchi amargou uma das suas derrotas mais doídas no Rose Bowl, em Los Angeles, naquela tarde de calor insuportável de 17 de julho de 1994. Tanto que prefere dizer que não se recorda muito bem daquele dia em que o Brasil sagrou-se campeão do mundo pela quarta vez batendo sua Itália em duelo definido na disputa de pênaltis. Ele, que estará novamente diante de seus algozes na noite desta quinta-feira em outro lugar onde o calor impera, Fortaleza, afirma que a derrota daquela ocasião pouco ou nada provocou mudanças no estilo de jogo de seu país.

“É muito difícil mudar, culturalmente, o futebol na Itália. Para mudar, é preciso coragem e inovação, mas isso requer conhecimento e estamos começando a mudar só agora”, criticou o ex-treinador, que considera o Liverpool a grande escola do momento no mundo.

Para Sacchi, que concedeu entrevista coletiva antes do jogo desta quinta-feira entre os veteranos das duas seleções no Estádio Presidente Vargas, o time de Jurgen Klopp é o principal disseminador do estilo de jogo consagrado por grandes times da história. Nesta lista certamente está o grande Milan comandado por Sacchi no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Equipes que investem na inteligência coletiva, na movimentação e na marcação sob pressão, além de possuir atletas multifuncionais. “É um divertimento ver o Liverpool jogar e assim deve ser o futebol”, colocou o vencedor de duas edições da Liga dos Campeões com o time milanista.

Já o futebol brasileiro não tem feito o ex-técnico sonhar muito. De acordo com ele, o Brasil sofreu um grande impacto com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais da Copa de 2014 e encontra-se “um pouquinho atrás” nesta escala de evolução da modalidade.

Perguntado sobre a partida que decidiu o Mundial de seleções de 1994, Sacchi brincou: “Não me recordo muito daquele dia, faz tanto tempo”. Na sequência, puxou pela memória a dificuldade que sua equipe teve para encarar uma decisão que se prolongou por 120 minutos e só foi encerrada nos pênaltis, sob o calor escaldante do verão norte-americano.

“A temperatura estava tão alta que na sexta-feira antes do jogo optamos por não treinar. Mas ambas as seleções deram a vida no campo. O Brasil foi o melhor naquele dia e na competição também, mas o jogo foi muito equilibrado”, relembrou ele.

Outro personagem que esteve em campo naquela data foi o defensor Franco Baresi. Hoje aos 59 anos, a lenda do Milan não parece mais lamentar as duras derrotas que sofreu com sua seleção, cuja camisa vestiu nas Copas de 1990 – perdida em casa para a Argentina, mas semifinais, nos pênaltis – e de 1994 – quando caiu diante do Brasil de Romário apenas nas penalidades máximas.

“Não há uma derrota maior que a outra. Só uma equipe pode ganhar, e não vejo diferença entre os dois jogos a não ser que uma derrota foi na final e a outra na semifinal. O importante é que hoje celebramos 25 anos desta partida histórica e estamos muito contentes e honrados em poder jogar novamente contra esses grandes campeões”.

Baresi se juntará, nesta quinta-feira, no Presidente Vargas, a nomes como Tassotti, Mussi, Benarrivo, Costacurta, Apolloni, Eranio, Albertini, Berti, Casiraghi, Zola, Evani e Massaro, que estiveram na campanha do vice mundial nos Estados Unidos, e contarão com os reforços de Panucci e Toto Schillaci, entre outros, representando outras Copas com a famosa camisa azul. Roberto Baggio, principal astro daquela equipe, no entanto, não pôde vir ao Brasil devido a compromissos profissionais.