Saboya é paulistano da gema.

Formado em administração pela Getulio Vargas, começou a carreira trabalhando num famoso fundo de ações.

Com o tempo, e a influência do pai, é verdade, subiu rapidamente na carreira.

– O Saboya sempre foi muito antenado — o pai gosta de se gabar entre os amigos.

Não deixa de ser verdade.

No grupo de whats dos ex-Santa Cruz, Saboya sempre gostou de dividir seu conhecimento sobre as ações mais promissoras.
Geralmente de empresas que ninguém nunca tinha ouvido falar.

Verdade que nenhum amigo nunca ganhou dinheiro com as dicas do Saboya, mas como ele mesmo sempre dizia que faria um milhão antes dos 25 anos, continuavam aceitando seus conselhos.

Mesmo porque, nenhum deles entendia patavina de mercado financeiro.

Na sauna do Pinheiros, mais de uma vez, Saboya alertou sobre algum IPO importante que estava por acontecer.

– Vai na minha. No fim do mês vai rolar o IPO da Biscuit. As ações vão triplicar, no mínimo.

– O que é Biscuit? — perguntou o Delgado, dentista.

– Sandálias sustentáveis de Piracicaba. Bombaram no Fashion Week.

Compraram as ações.

Seis meses depois, Saboya explicou porque o IPO não rolou

– Deu um problema lá com o SEC. Mas não vendam, não! — Saboya alertou. — Só vai subir. Batata.

Não venderam.

Desde muito antes do início da pandemia, Saboya mergulhou fundo em criptomoedas.

Começou com bitcoins, como todo mundo. Depois Ethereum

Segundo ele, em 2019 ganhou mais do que o pai em suas fazendas.

Arrastou uma meia dúzia para o investimento, mas só perderam dinheiro.

Verdade que nenhum amigo nunca ganhou dinheiro com suas dicas, mas como ele sempre dizia que faria um milhão de reais antes dos 25 anos, continuamos aceitando seus conselhos

Saboya explicou que entraram tarde.

Foi o Canhadas que plantou a semente da dúvida.

– Vocês já notaram que o Saboya nunca perde dinheiro? — perguntou o advogado, na sauna, num dia que o Saboya estava em Nova Iorque fechando a compra de uma Fintech.

– Ele tem muita inside information — respondeu o Fernandes, restauranteur, aumentando a temperatura.

– Então alguém me explica porque ele ainda mora com a mãe? — maldoso, Canhadas soltou a frase que flutuou no ar.

Dali para frente, Saboya começou a perder prestigio entre os amigos, que juntaram os pontos do comentário do Canhadas com o fato das dicas do amigo nunca terem dado retorno.

Saboya não percebeu.

Afinal, ninguém tinha coragem de confronta-lo, em nome da velha amizade.

Mas nenhum deles investiu mais nas sugestões mirabolantes que apareciam da noite para o dia.

Foi o Zanatta, no aniversário da Marina, no Fasano, que notou o sumiço do Saboya.

– Onde é que anda ele? Alguém sabe, hein?

– A última vez que falei com ele, disse que tinha uma dica imperdível, mas não lembro o que foi… — disse o Zambini, dono de uma empresa de segurança para eventos.

Os amigos apenas reviraram os olhos.

O tempo passou e Saboya não apareceu mais.

Até do grupo do whats saiu.

Foi a Marina quem descobriu o paradeiro do amigo:

“Gente, hoje cruzei com o Saboya no almoço!” — ela contou no grupo de whats.

Canhadas: “Onde?!”

Marina: “No Frevo dos Jardins!”

Zanata: “Ele adora o beirute de lá.”

Marina: “Não tava comendo não. Tava de garçom.”

Silêncio.

Marina: “Disse que investiu tudo num terreno no Metaverso.”

Os amigos reviraram os olhos, mas cada em seu celular.

“Vai bombar” – Canhadas, maldoso, concluiu.