Uma crise sem precedentes se instalou no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Há menos de duas semanas da realização do exame, 31 funcionários do órgão pediram exoneração de seus cargos, num claro protesto contra os desmandos na atual gestão, comandada pelo economista Danilo Dupas. Todos justificaram a saída por causa da fragilidade técnica e administrativa do Inep e pela atitude imperial de Dupas.

São denunciadas também situações de assédio moral e um clima de insegurança e medo no trabalho. O fato é que se desenvolve dentro do Ministério da Educação neste momento uma verdadeira caça às bruxas, que faz parte do projeto de destruição programada de conquistas sociais do governo federal. E um dos objetivos prioritários é desacreditar o Enem.

A demissão coletiva de hoje se segue ao pedido de exoneração feito por dois altos funcionários do Inep, sexta-feira, 6, por conta das dificuldades vislumbradas na aplicação no exame. Eduardo Carvalho, coordenador-geral de exames para certificação, e Hélio Junio Rocha, coordenador-geral de logística da aplicação, jogaram a toalha temendo pelo pior. Dos outros 29 que anunciaram a saída do órgão, 22 ocupavam cargos de coordenação. Numa assembléia de servidores do Inep, na semana passada, a situação critica foi denunciada.

Chegou-se a um ponto insustentável. Teme-se pelo pior na aplicação da prova, tanto em questões de conteúdo, quanto em problemas de logística e organização. E a grande preocupação dos demissionários é serem responsabilizados pela sociedade por tudo que pode acontecer de errado.

Há alguns meses, o ministro da Educação, o teólogo Milton Ribeiro, exigiu ter acesso antecipado à prova para evitar o que ele define como “questões de cunho ideológico”. Disse também que é hora de “dar uma reviravolta nessas questões do Enem”. Na prática, trata-se de um anúncio de censura prévia, já que a prova deveria ser sigilosa e não passar pela malha fina do ministro, que age com parcialidade.

Além disso, com suas políticas de exclusão, o governo conseguiu reduzir o número de inscritos no exame aos níveis mais baixos desde 2006. Há 3,9 milhões de inscritos, 31% menos do que no ano passado. Embora ainda não se saiba exatamente o que vai acontecer nos dias de prova, o certo é que o Enem está sendo sabotado. E a capacidade de resistência dos servidores do Inep se esgotou.