O ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que “não deve nada para ninguém” e voltou a assegurar que continuará no governo Lula (PT) à revelia de seu partido, o União Brasil. Suspenso da Executiva Nacional por se recusar a deixar a Esplanada dos Ministérios após a ruptura da sigla com o Planalto, Sabino afirmou estar com a “consciência limpa”.
Para Sabino, o processo disciplinar que poderia resultar na sua expulsão, e que pode se arrastar por até 60 dias, não faria sentido “faltando menos de um ano para as eleições de 2026”. “Estou trabalhando pelo Brasil, pelo Pará e pela COP30, que não é uma simples reunião de condomínio”, disse em entrevista nesta segunda-feira, 17, ao programa “Bom dia, Ministro”, ao reforçar que não cometeu nenhuma irregularidade.
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A crise de Sabino se intensificou após a federação União Progressista (União Brasil e PP) determinar que filiados deixassem suas pastas no governo Lula, sob risco de punição no último dia 18 de setembro, como reportou a IstoÉ. A avaliação dentro do partido é de que a situação se tornou insustentável depois que Lula afirmou que Antonio Rueda, presidente do União Brasil, não gosta dele nem do governo.
Sabino, no entanto, ignorou o ultimato, foi afastado da direção partidária no Pará e passou a ser alvo de críticas internas, especialmente do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que o chamou de “traidor”. O ministro respondeu minimizando a acusação e ironizando o desempenho eleitoral do governador, afirmando que só pretende tratá-lo como adversário “quando ele atingir 1,5% nas pesquisas”.
Por que Sabino fica
Mesmo pressionado, Sabino tem reforçado publicamente sua aliança com o presidente Lula. Durante agendas oficiais, inclusive em Belém, afirmou que nenhum partido vai afastá-lo do povo e que Lula pode contar com ele “onde estiver”. Pré-candidato ao Senado pelo Pará e pretendente do apoio petiste, o ministro aposta na visibilidade política da COP30 para fortalecer sua base regional e argumenta que abandonar o ministério às vésperas do evento teria significado “interromper um trabalho essencial” para o país.
No debate sobre a organização da COP30, Sabino voltou a rebater críticas e atribuiu parte delas à “síndrome de vira-lata”. Para ele, a conferência, que soma mais de 60 mil inscritos, está dentro da normalidade, e problemas como a explosão do preço das hospedagens foram corrigidos pelo próprio mercado. Segundo o ministro, há setores “procurando cabelo em ovo” e tentando associar falhas pontuais a questões políticas. “Isso é síndrome de vira-lata: achar que tudo o que funciona bem precisa estar lá fora”, afirmou.
A posição de Sabino expõe o paradoxo vivido pelo ministro: enquanto mantém prestígio no governo – reforçado pela presidência do Conselho Executivo da ONU Turismo – enfrenta isolamento crescente dentro do partido e a possibilidade concreta de expulsão. Ainda assim, ele diz apostar na força do cargo e na centralidade da COP30 para sustentar sua trajetória política. No centro da disputa, a frase que repetiu várias vezes resume o momento e evidencia o racha com sua própria legenda: “Não devo nada para ninguém”.