O presidente norte-americano, Donald Trump, pediu a “rendição incondicional” do Irã nesta terça-feira e alertou que a paciência dos EUA estava se esgotando, mas disse que não havia intenção imediata de matar o líder do Irã “por ora”, conforme a guerra aérea entre Israel e Irã se estendeu pelo quinto dia.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse, enquanto isso, que o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, poderia ter o mesmo destino do presidente iraquiano Saddam Hussein, que foi derrubado em uma invasão liderada pelos EUA e acabou sendo enforcado após um julgamento.
“Advirto o ditador iraniano para que não continue a cometer crimes de guerra e a disparar mísseis contra cidadãos israelenses”, disse Katz às principais autoridades militares israelenses.
Explosões foram relatadas posteriormente na capital iraniana, Teerã, e na cidade de Isfahan, no centro do Irã, enquanto Israel disse que o Irã havia disparado mais mísseis em sua direção e sirenes de ataque aéreo soaram em Tel Aviv e no sul de Israel.
Os comentários de Trump, feitos por meio da mídia social, sugeriram uma postura mais agressiva em relação ao Irã, enquanto ele avalia se deve aprofundar o envolvimento dos EUA.
“Sabemos exatamente onde o chamado ‘Líder Supremo’ está se escondendo”, escreveu ele no Truth Social. “Não vamos tirá-lo (matar!), pelo menos não por enquanto… Nossa paciência está se esgotando.”
Três minutos depois, ele postou: “Rendição incondicional!” em letras maiúsculas.
As mensagens às vezes contraditórias e enigmáticas de Trump sobre o conflito entre Israel, aliado próximo dos EUA, e o Irã, inimigo de longa data, aprofundaram a incerteza em torno da crise. Seus comentários públicos variaram de ameaças militares a aberturas diplomáticas, o que não é incomum para um presidente conhecido por uma abordagem muitas vezes errática da política interna e externa.
Trump previu na segunda-feira que Israel não diminuiria seus ataques ao mandar o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ou o vice-presidente JD Vance para se encontrar com autoridades iranianas.
Trump havia dito que sua saída antecipada da cúpula do G7 no Canadá não tinha “nada a ver” com o trabalho em um acordo entre Israel e o Irã, e que algo “muito maior” do que isso era esperado.
Vance disse que a decisão de tomar outras medidas para acabar com o programa de enriquecimento de urânio do Irã, que as potências ocidentais suspeitam ter como objetivo o desenvolvimento de uma bomba nuclear, “em última análise, pertence ao presidente”. O líder britânico disse que não havia nenhuma indicação de que os EUA estivessem prestes a entrar no conflito.
ENFRAQUECIMENTO DA INFLUÊNCIA REGIONAL
Os principais conselheiros militares e de segurança de Khamenei foram mortos por ataques israelenses, deixando grandes lacunas em seu círculo interno e aumentando o risco de erros estratégicos, de acordo com cinco pessoas familiarizadas com seu processo de tomada de decisão.
Os militares israelenses disseram que a liderança militar do Irã estava “fugindo” e que haviam matado o chefe do Estado-Maior do Irã, Ali Shadmani, durante a noite, quatro dias depois de ele ter substituído outro comandante importante morto nos ataques.
Com os líderes iranianos sofrendo sua mais perigosa violação de segurança desde a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou um monarca apoiado pelos EUA e levou ao governo clerical, o comando de segurança cibernética do país proibiu as autoridades de usar dispositivos de comunicação e telefones celulares, informou a agência de notícias Fars.
Israel lançou uma “guerra cibernética maciça” contra a infraestrutura digital do Irã, informou a mídia iraniana.
Desde que o Hamas, apoiado pelo Irã, atacou Israel em 7 de outubro de 2023 e desencadeou a guerra de Gaza, a influência regional de Khamenei tem se enfraquecido à medida que Israel tem atacado aliados do Irã – do Hamas em Gaza ao Hezbollah no Líbano, os houthis no Iêmen e as milícias no Iraque. E um aliado próximo do Irã, o presidente autocrático da Síria, Bashar al-Assad, foi deposto.
Israel lançou sua guerra aérea, a maior já realizada contra o Irã, depois de dizer que havia concluído que a República Islâmica estava prestes a desenvolver uma arma nuclear.
O Irã nega a busca por armas nucleares e apontou seu direito à tecnologia nuclear para fins pacíficos, incluindo o enriquecimento, como parte do Tratado de Não Proliferação.
Israel, que não faz parte do TNP, é o único país do Oriente Médio que se acredita ter armas nucleares. Israel não nega nem confirma esse fato.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfatizou que não recuará até que o desenvolvimento nuclear do Irã seja desativado, enquanto Trump diz que o ataque israelense pode terminar se o Irã concordar com restrições rigorosas ao enriquecimento.
Antes do início do ataque israelense, o conselho de diretores de 35 países da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de vigilância nuclear da ONU, declarou que o Irã estava violando suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em quase 20 anos.
A AIEA disse nesta terça-feira que havia indícios de impactos diretos nas salas de enriquecimento subterrâneo nas instalações de Natanz e que não havia nenhuma mudança a ser relatada nas instalações de Fordow e Isfahan.
Katz disse que a instalação nuclear iraniana em Fordow, onde um local de enriquecimento é localizado nas profundezas de uma montanha, é uma questão que “naturalmente” será abordada.
COLISÃO DE NAVIOS
Israel diz que agora tem o controle do espaço aéreo iraniano e pretende intensificar a campanha nos próximos dias.
A vantagem de Israel parece abrir caminho para a expansão do bombardeio, embora seja difícil desferir um golpe definitivo nas instalações nucleares profundamente subterrâneas sem que os EUA se juntem ao ataque, de acordo com a análise feita nesta terça-feira pelo líder da Alemanha.
Até o momento, o Irã disparou cerca de 400 mísseis balísticos e centenas de drones contra Israel, com cerca de 35 mísseis penetrando no escudo defensivo de Israel e causando impacto, segundo autoridades israelenses.
A Guarda Revolucionária do Irã disse ter atingido a Diretoria de Inteligência Militar de Israel e o centro operacional do Mossad, serviço de inteligência estrangeira, na madrugada desta terça-feira. Não houve confirmação israelense de tais ataques.
As autoridades iranianas relataram 224 mortes, a maioria civis, enquanto Israel disse que 24 civis foram mortos. Moradores de ambos os países têm sido retirados ou fugido.
Os mercados mundiais de petróleo estão em alerta máximo, após ataques a locais de energia, incluindo o campo de gás de South Pars, compartilhado pelo Irã e Catar e o maior do mundo.
Dois petroleiros colidiram e pegaram fogo nesta terça-feira perto do Estreito de Ormuz, onde a interferência eletrônica aumentou durante o conflito entre Irã e Israel, mas não houve feridos na tripulação ou derramamento de óleo. Cerca de um quinto do consumo total de petróleo do mundo passa por essa hidrovia.