O grupo militar privado Wagner, supostamente próximo ao Kremlin, foi acusado pelo governo de Belarus, nesta quinta-feira (30), de organizar “atos de terrorismo” no país após a prisão de 32 homens, dias antes de uma espinhosa eleição para seu autoritário presidente.

Historicamente aliados, Moscou e Minsk mantêm relações tensas desde o final de 2019, quando o presidente Alexander Lukashenko começou a acusar a Rússia de tentar fazer de Belarus “um vassalo” e de intervir na consulta eleitoral de 9 de agosto. Moscou rejeita essas acusações.

“As pessoas detidas são suspeitas de preparar atos de terrorismo no território de Belarus”, disse o secretário de Estado do Conselho de Segurança Nacional, Andrei Ravkov, à imprensa nesta quinta-feira.

Ele confirmou que as autoridades ainda procuram outros 170 possíveis suspeitos.

“Segundo algumas informações, eram até 200. Estamos procurando os outros. São como uma agulha no palheiro”, acrescentou.

A Rússia, que pediu explicações a Lukashenko, desmentiu qualquer tentativa de desestabilizar o país.

“É evidente que não pode ser o caso. Rússia e Belarus são aliados, sócios muito próximos”, comentou Dmitri Peskov, o porta-voz do Kremlin.

O Ministério bielo-russo das Relações Exteriores anunciou hoje que convocou o embaixador russo para explicar os “objetivos (…) deste grupo organizado de pessoas, algumas das quais com experiência em conflitos armados”.

Wagner é, frequentemente, acusado de usar mercenários em intervenções no exterior (Ucrânia, Síria, Líbia, República Centro-Africana), às quais Moscou não quer estar oficialmente vinculada.

– Campanha eleitoral continua –

As autoridades bielorrussas acreditam que o objetivo dos suspeitos é desestabilizar o país no contexto presidencial, enquanto Lukashenko, 65 anos, considera que a Rússia, seu grande aliado, agora apoia seus opositores.

Essa situação se dá no momento em que o presidente bielo-russo, que disputa seu sexto mandato, enfrenta uma mobilização incomumente forte, apesar da repressão das manifestações e da detenção de vários de seus adversários.

Ravkov declarou que os candidatos à Presidência foram informados sobre eventuais ameaças contra os comícios que eles organizam.

A principal rival de Lukashenko, Svetlana Tijanovskaia, descartou cancelar seus comícios, que atraem multidões até então nunca vistas no país. O próximo será hoje à noite, em Minsk.

“Todos os nossos atos vão acontecer, no entanto, com medidas de segurança reforçadas”, afirmou, após uma reunião na comissão eleitoral, destacando que “a responsabilidade de garantir a segurança é do Estado”.

Tijanovskaia substitui seu marido, um “video blogger” preso em maio, quando crescia em popularidade. Contra as expectativas, essa candidatura se tornou um fenômeno.

Ela se uniu à Maria Kolesnikova, ex-diretora de campanha de outro opositor preso, e a Veronika Tsepkalo, esposa de um terceiro oponente do regime, exilado na Rússia.

Esta última disse hoje que a polícia a convocou, no âmbito de uma investigação sobre seu marido e a prisão de sua irmã.

“Considero isso uma pressão política”, frisou Tsepkalo.

Para o diretor do Centro de Pesquisas Estratégicas e Política Externa, Arseni Sivitsky, Moscou tentaria impor mais “lealdade” a Minsk “depois que Lukashenko rejeitou o plano de aprofundar a integração (russo-bielo-russa), acusando o Kremlin de querer anexar Belarus”.

Outros acreditam que esse caso do grupo Wagner seria um golpe teatral orquestrado pelas autoridades bielo-russas.