Rússia mantém em sigilo detalhes de incêndio que matou 14 em submarino

Rússia mantém em sigilo detalhes de incêndio que matou 14 em submarino

Os detalhes do incêndio que provocou 14 mortes na segunda-feira em um submarino de pesquisas da Marinha russa não serão divulgados, por sigilo de Estado, anunciou nesta quarta-feira o Kremlin.

Posteriormente o Ministério da Defesa publicou os nomes e fotografias das vítimas, que segundo o comunicado oficial salvaram “seus camaradas e o submarino” às custas de suas vidas.

O ministro, Sergei Shoigu, explicou que houve sobreviventes, mas não deu detalhes.

Este acidente lembra a tragédia do submarino a propulsão nuclear “Kursk”, que afundou 118 homens a bordo em 12 de agosto de 2000, quando começava o primeiro mandato de Vladimir Putin.

“Esta informação não pode se tornar pública em sua totalidade. Está na categoria sigilo de Estado”, afirmou o porta-voz de Kremlin, Dmitri Peskov, que considera a decisão “perfeitamente normal”.

“O Estado-Maior das Forças Armadas russas dispõe de uma informação completa sobre a tragédia”, completou.

Quatorze marinheiros, entre eles sete capitães de primeiro escalão (o grau mais elevado dos oficiais de navegação) morreram na segunda-feira intoxicados pela fumaça provocada por um incêndio em um misterioso submarino destinado, segundo a versão oficial, ao estudo do fundo dos oceanos.

Segundo o Exército, o acidente acontece em águas territoriais russas.

Moscou informou que o submarino retornou a seu porto, na cidade fechada de Severomorsk, na região de Murmansk, no Ártico.

Presidindo uma reunião em Severomorsk, o ministro da Defesa Serguei Shoigu confirmou nesta quarta-feira que há sobreviventes entre a tripulação, incluindo um civil “representante da indústria”, que foi imediatamente levado a uma parte hermeticamente isolada.

O presidente Vladimir Putin confirmou que este é um submarino “inusual”.

De acordo com a imprensa russa o incêndio pode ter acontecido num pequeno submarino nuclear, o “AS-12” ou o “AS-13”, conhecidos como “Locharik”, concebido para pesquisas e operações especiais a grande profundidade.

O Locharik, que pode acomodar até 25 marinheiros, foi concebido para se atar a um submarino maior que o transporta para sua área de operação.

“Com seu braço articulado, ele é capaz de interagir com o fundo do mar (…) Ele também é responsável por prender cabos submarinos. Pode cumprir missões muito sensíveis”, explicou Igor Delanoe, vice-diretor do Observatório franco-russo e especialista na marinha russa.

Segundo ele, este tipo de submarino foi usado em 2012 “para coletar amostras da plataforma continental no subsolo do Ártico”, para que a Rússia pudesse pleitear na ONU a ampliação de suas fronteiras na região.

Nesta quarta, Seguei Shoigu ordenou o “reparo rápido do submarino e seu retorno a águas profundas”, de acordo com agências russas.

Este tipo de submarino faz parte da divisão de mergulho em águas profundas do Departamento de Defesa, uma divisão especial e “completamente autônoma” da Marinha russa.

“Este é um dos departamentos mais secretos da Marinha”, afirmou Igor Delanoe, apontando que dispõe “da elite da frota de submarinos russos: os mergulhadores mais qualificados, os homens mais experientes, os mais treinados”.

Nas redes sociais, o governador de São Petersburgo Alexander Beglov assegurou que os marinheiros “estavam estacionados em uma de nossas bases”.

Eles serão enterrados em Kronstadt, disse ao jornal RBK o representante da catedral desta ilha no Golfo da Finlândia, onde há uma grande base naval.

Segundo o jornal Kommersant, os marinheiros serviam na base naval 45707 em Petergof, perto de São Petersburgo: uma base naval ligada, segundo o jornal, ao Departamento de Mergulho Profundo do Ministério da Defesa.