O presidente russo, Vladimir Putin, prometeu nesta quinta-feira (27), na abertura da reunião de cúpula Rússia-África, em São Petersburgo, que irá enviar grãos grátis a seis países daquele continente, em um contexto de apreensão causada pela retirada russa do acordo para exportar cereais ucranianos.

Parcialmente isolado no cenário internacional desde o lançamento de sua ofensiva militar na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Putin conta com a parceira China e com o apoio de países africanos.

Em seu discurso de abertura da segunda cúpula Rússia-África na antiga capital imperial, após a primeira em 2019 em Sochi, às margens do mar Negro, Putin prometeu o envio gratuito de até 50.000 toneladas de grãos para seis países africanos.

“Nos próximos meses poderemos garantir remessas gratuitas de 25.000 a 50.000 toneladas de grãos para Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia”, disse ele, em um discurso transmitido pela televisão russa.

O discurso de Putin teve como foco uma questão candente na cúpula: o abandono de Moscou de um acordo crucial que permitia, desde o verão de 2022, que a Ucrânia exportasse seus grãos pelo mar Negro, inclusive para a África, apesar do bloqueio russo dos portos ucranianos.

Em um ano, esse acordo permitiu a saída de quase 33 milhões de toneladas de cereais dos portos ucranianos, o que contribuiu para estabilizar os preços mundiais dos alimentos e evitar o risco de escassez.

A porta-voz do Exército ucraniano Natalia Gumeniuk acusou Moscou de querer “o monopólio dos cereais”, após uma série de ataques russos à infraestrutura portuária da Ucrânia.

– Ucrânia nesta sexta-feira –

O Kremlin indicou que “49 países africanos confirmaram participação” na cúpula, observando que haverá “uma declaração final” que “estabelecerá as abordagens coordenadas para o desenvolvimento da cooperação russo-africana”.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu hoje aos líderes africanos que exijam respostas para a crise dos cereais. “Eles sabem exatamente quem é o responsável pela situação atual. Espero que a Rússia ouça claramente esta mensagem de seus parceiros africanos”, disse ele durante uma visita à Nova Zelândia.

Putin se reuniu ontem com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e, depois, com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, elogiando seus projetos em comum no campo da energia. Nos últimos anos, o líder russo tenta fortalecer seus laços com a África por meio da presença do grupo paramilitar Wagner. Mas a rebelião fracassada do grupo na Rússia no final de junho levanta dúvidas sobre o futuro de suas operações no continente.

O Kremlin anunciou que o tema da Ucrânia também será discutido na cúpula de amanhã, em um “almoço de trabalho entre Vladimir Putin e um grupo de chefes de Estado africanos”. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, informou que também será abordada a tentativa de golpe no Níger, que levou a diplomacia russa a exigir a libertação imediata do presidente Mohamed Bazoum, sequestrado por militares golpistas, que afirmam tê-lo derrubado.

O Níger é o terceiro país do Sahel a sofrer um golpe desde 2020, depois do Mali e de Burkina Faso, cujos militares golpistas se aproximaram da Rússia após tomarem o poder.

A reunião de cúpula em São Petersburgo acontece um mês antes da dos Brics na África do Sul, à qual o presidente russo, que recebeu um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, se recusou a comparecer, pondo fim a meses de especulação.

bur/sba/jnd/chv/mab-mar/zm/aa-lb