Em um clima tenso, a Rússia anunciou nesta quarta-feira (4) não ter conseguido o apoio da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) para participar da investigação sobre o envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal na Grã-Bretanha.

Os representantes dos 41 membros da Opaq se reuniram a portas fechadas para examinar essa possibilidade, em um caso que levou ao pior ambiente diplomático entre a Rússia e o Ocidente desde a Guerra Fria, com a expulsão recíproca de mais de 300 diplomatas.

Diante da investigação britânica sobre o escândalo, a Rússia havia pedido formar parte dessas pesquisas.

“Infelizmente não conseguimos obter dois terços dos votos para apoiar essa decisão. Precisávamos de uma maioria qualificada”, declarou o embaixador russo Alexander Shulgin.

“A proposta era realizar uma investigação conjunta, com Rússia e Reino Unido, e o diretor-geral da Opaq atuaria como mediador”, explicou o representante russo.

Segundo Shulgin, o Reino Unido e os Estados Unidos votaram contra, “seguidos por outros que estão sujeitos à disciplina da UE e da Otan”, acrescentou.

Irã, China e algumas nações africanas votaram a favor, assegurou o embaixador.

No total, dos 41 países que compõem o Conselho Executivo da Opaq, 23 votaram a favor da proposta apresentada pela Rússia e Irã, ou se abstiveram, acrescentou o diplomata.

“As máscaras caíram” nessa organização, acusou Shulgin na embaixada russa em Haia.

Outras fontes diplomáticas indicaram à AFP que apenas seis países votaram a favor do projeto russo, 15 contra e 17 abstiveram-se.

Londres havia descrito como “perversa” a proposta de Moscou de realizar em conjunto essa investigação, já que considera que o governo de Vladimir Putin está por trás do envenenamento de Skripal e sua filha Yulia.

Putin havia expressado previamente que esperava que “prevaleça o sentido comum” no caso.

A Rússia também pediu uma reunião do Conselho de Segurança sobre o caso, para quinta-feira às 19h00 GMT.

– Animais domésticos –

A porta-voz da chancelaria russa chegou a solicitar que se investigue o estado de saúde dos animais domésticos que, segundo eles, a família Skripal possuía.

“Onde estão esses animais agora? Em que estado se encontram?” perguntou Maria Zhakarova.

Skripal e sua filha Yulia, assim como um policial britânico que os ajudou, foram envenenados em Salisbury com Novichok, um poderoso agente neurotóxico, segundo Londres.

Na terça-feira, o chefe do laboratório militar britânico de Porton Down, Gary Aitkenhead, afirmou que não foi possível determinar que o agente neurotóxico usado para envenenar o ex-espião russo proceda da Rússia.

“Fomos capazes de identificar que se trata de Novichok, de identificar que foi um agente neurotóxico de tipo militar”, afirmou. Mas “não identificamos sua origem exata”, acrescentou.

De qualquer forma, “sabemos que a Rússia buscou, durante a última década, os meios de produzir agentes neurotóxicos para fins de assassinato, e produziu e armazenou pequenas quantidades de Novichok”, afirmou o porta-voz do executivo em um comunicado.

– Sem provas –

Londres solicitou à Opaq que comprovasse a análise do governo britânico. Os especialistas da organização viajaram para o Reino Unido para obter amostras da substância utilizada no envenenamento, que serão examinadas em laboratórios internacionais independentes.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, declarou nesta segunda-feira que Londres pode estar por trás do envenenamento, movido pelo “interesse” em desviar a atenção de seus eleitores e afirmar seu poder em meio às difíceis negociações do Brexit.