19/04/2022 - 13:28
A Rússia começou o assalto final à região Leste da Ucrânia para criar um corredor terrestre ligando a Crimeia à sua própria fronteira. Essa ofensiva, que já se desenhava desde o reconhecimento da incapacidade de ocupar Kiev, foi anunciada pelo próprio governo ucraniano como forma de pressionar os países ocidentais a aumentarem o envio de armamento.
A superioridade bélica russa, o maior número de soldados e a menor dificuldade logística, já que os suprimentos podem vir diretamente da fronteira, vão facilitar os ataques. Mas isso não significa que os soldados de Putin terão uma vitória fácil, nem mesmo garantida. O Institute for the Study of War, um think tank de especialistas americanos, lembra que as tropas russas estão desfalcadas depois das derrotas nos arredores da capital e não tiveram tempo para se preparar e rearmar. O uso de mercenários e de ex-combatentes são indícios da fragilidade das forças de Putin.
Os russos contam com a vantagem geográfica dos campos abertos depois de fracassarem na guerra urbana no norte do país. Mas seguem enfrentando fatores com os quais Putin não contava: a resiliência dos soldados ucranianos, o apoio que estes receberam em massa do ocidente e a tenacidade da população, que mostrou disposição de se sacrificar, enquanto a moral dos invasores se degenera.
A Rússia sentiu o baque da perda do cruzador Moscou, o principal navio de sua frota no mar Negro. Foi um golpe simbólico que feriu o orgulho militar russo e mobilizou a opinião pública. Fez o governo incrementar seus ataques com mísseis, que podem ser disparados a distância com precisão, causando pânico na população e gerando manchetes úteis à propaganda. Mas, como diz a doutrina clássica militar, é a ocupação do território que determina o sucesso de qualquer guerra.
E aí a Rússia pode colher sua segunda derrota militar na Ucrânia. Depois de gerar um cenário de terra arrasada no leste do país, reproduzindo o que já havia feito em Grozni (Chechênia) e em Aleppo (Síria), Putin pode não conseguir manter a ocupação dessa porção do território inimigo. Bem armados e motivados, os soldados ucranianos podem contra-atacar e impor novas derrotas numa guerra assimétrica, com o uso de táticas de guerrilha e armas modernas, como drones. A reação pode demorar, como aconteceu no Afeganistão, mas testará a capacidade das forças de Putin de seguir no controle após tomarem o território.
Isolado internacionalmente, com a economia em declínio e sem os recursos europeus obtidos da venda de petróleo e gás, Putin enfrentará uma desgastante guerra de fricção. Ele contava com uma vitória nas regiões separatistas. Em meio a tantas notícias negativas, está desesperado para anunciar um triunfo capaz de “pôr fim ao conflito”, apresentando-o como seu verdadeiro objetivo. Mas seu troféu será efêmero. Seu projeto expansionista de poder também naufragou.