Rússia fica sozinha no Conselho de Segurança da ONU

Rússia fica sozinha no Conselho de Segurança da ONU

O presidente russo, Vladimir Putin, “não pode se safar”, declarou nesta quinta-feira (22) o secretário de Estado americano, Antony Blinken, no Conselho de Segurança da ONU, durante reunião dedicada à Ucrânia, na qual seu colega russo, Serguei Lavrov, sozinho e encurralado, refutou as acusações ocidentais.

“A ordem internacional que tentamos salvar aqui está sendo destruída diante de nossos olhos”, disse Blinken a seus colegas na reunião ministerial extraordinária. “Não podemos deixar o presidente Putin se safar.”

Lavrov, com quem Blinken se recusa a se reunir desde a invasão de 24 de fevereiro e que sequer se sentou à mesa do Conselho quando seus colegas discursaram, preferindo deixar um representante em seu lugar, refutou as acusações ocidentais e colocou a culpa no governo de Kiev, que acusou de “russofóbico”.

“Os Estados Unidos e seus aliados, com a conivência das organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, estão encobrindo os crimes do regime de Kiev”, acusou Lavrov em resposta a relatos de abusos por parte das forças militares russas.

“Kiev deve sua impunidade a seus parceiros ocidentais”, acrescentou Lavrov, que acusou o “Estado totalitário nazista” ucraniano e a impunidade da Ucrânia por seus atos desde 2014 e garantiu que a decisão de lançar a operação militar especial – Moscou sempre negou que se trate de uma invasão – era inevitável.

Já o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, garantiu ao colega russo -com o qual afirmou que “manteria uma distância sanitária”- que Moscou “nunca ganhará esta guerra”. “Cada ucraniano hoje é uma arma pronta para defender a Ucrânia”, acrescentou.

A França, que preside o Conselho de Segurança, convocou esta reunião para exigir que a Rússia preste contas. “Não há paz sem justiça”, declarou a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna, à imprensa.

Nesta quarta-feira, os ocidentais intensificaram os ataques a Moscou, após o anúncio de Putin de mobilizar 300.000 reservistas para relançar a ofensiva na Ucrânia diante das derrotas sofridas no terreno nas últimas semanas e sua disposição para usar “todos os meios” ao seu alcance para vencer a guerra.

A União Europeia anunciou novas sanções contra os interesses de Moscou.

– ‘Catálogo de crueldades’ –

As evidências de violações dos direitos humanos na Ucrânia são esmagadoras: execuções sumárias, violência sexual, tortura e outros tratamentos desumanos e degradantes contra civis e prisioneiros de guerra nas áreas controladas pelos russos. Após a expulsão recente dos russos da cidade de Izium, foram encontradas valas contendo centenas de corpos, entre eles de crianças.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma investigação completa desse “catálogo de crueldades” para “garantir a responsabilidade”. Os culpados, disse ele, devem se sentar no banco da justiça em “julgamentos justos e independentes”.

A descoberta de covas com centenas de mortos, incluindo crianças, na cidade de Izium, recentemente recuperada pelas forças ucranianas após meses sob controle russo, é “extremamente perturbadora”, criticou Guterres, que destacou o “impacto inaceitável desta guerra sobre os direitos humanos”.

As vítimas e suas famílias têm direito à “justiça, indenização e reparação”, disse ele. No dia anterior, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, exigiu perante a Assembleia Geral da ONU uma “punição justa” contra a Rússia.

O promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, que abriu uma investigação na Ucrânia após a invasão russa, disse que “os ecos de Nuremberg devem ser ouvidos atualmente”, referindo-se à cidade alemã onde um grupo de líderes nazistas foi julgado por crimes contra a humanidade.