Rússia exige território e redução do exército da Ucrânia para cessar-fogo

Rússia exige território e redução do exército da Ucrânia para cessar-fogo

A Rússia disse à Ucrânia, em negociações de paz nesta segunda-feira, que só deve concordar com o fim da guerra caso Kiev ceda grandes novos pedaços de território e aceite limites para o tamanho de seu exército, de acordo com um memorando relatado pela mídia russa.

Os termos, formalmente apresentados em negociações em Istambul, destacaram a recusa de Moscou em comprometer seus objetivos de guerra de longa data, apesar dos apelos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para acabar com o “banho de sangue” na Ucrânia.

A Ucrânia tem repetidamente rejeitado as condições russas, classificando-as como equivalentes à rendição.

As delegações dos lados em conflito se reuniram por apenas uma hora, na segunda rodada de negociações desde março de 2022. Eles concordaram em trocar mais prisioneiros de guerra — com foco nos mais jovens e nos feridos mais graves — e devolver os corpos de 12.000 soldados mortos.

O presidente turco, Tayyip Erdogan, descreveu o encontro como excelente e disse que esperava reunir Vladimir Putin, da Rússia, e Volodymyr Zelenskiy, da Ucrânia, para uma reunião na Turquia com Trump.

Mas não houve avanço em uma proposta de cessar-fogo que a Ucrânia, seus aliados europeus e Washington pediram à Rússia que aceitasse.

Moscou afirma que busca um acordo de longo prazo, não uma pausa na guerra; Kiev diz que Putin não está interessado na paz. Trump alertou que os Estados Unidos estão prontos para abandonar seus esforços de mediação, a menos que os dois lados demonstrem progresso na direção de um acordo.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, que chefiou a delegação ucraniana, disse que Kiev — que elaborou seu próprio roteiro de paz — analisaria o documento russo, sobre o qual não fez comentários imediatos.

A Ucrânia propôs a realização de mais conversas antes do final de junho, mas acredita que somente uma reunião entre Zelenskiy e Putin pode resolver as muitas questões dissonantes, disse Umerov.

Zelenskiy disse que a Ucrânia apresentou uma lista de 400 crianças que alega terem sido sequestradas para a Rússia, mas que a delegação russa concordou em trabalhar para devolver apenas 10 delas. A Rússia sustenta que as crianças foram retiradas de zonas de guerra para protegê-las.

EXIGÊNCIAS RUSSAS

Publicado pela agência de notícias Interfax, o memorando russo afirma que uma solução para a guerra exige o reconhecimento internacional da Crimeia — uma península anexada pela Rússia em 2014 — e de outras quatro regiões da Ucrânia que Moscou reivindicou como seu próprio território. A Ucrânia teria que retirar suas forças de todas elas.

Ele reafirmou as exigências de Moscou de que a Ucrânia se torne um país neutro — descartando a adesão à Otan — e que proteja os direitos dos cidadãos que falam russo, torne o russo um idioma oficial e promulgue uma proibição legal da glorificação do nazismo. A Ucrânia classifica a acusação de nazismo de absurda e nega a discriminação contra falantes de russo.

A Rússia também formalizou seus termos para qualquer cessar-fogo a caminho de um acordo de paz, apresentando duas opções que parecem inviáveis para a Ucrânia.

A primeira opção, de acordo com o texto, é que a Ucrânia inicie uma retirada militar total das regiões de Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. Dessas regiões, a Rússia controla totalmente a primeira, mas detém cerca de 70% das demais.

A segunda opção sugere um pacote exigindo que a Ucrânia interrompa o reposicionamento militar e aceite a suspensão do fornecimento estrangeiro de ajuda militar, comunicações via satélite e inteligência. Kiev também teria que suspender a lei marcial e realizar eleições presidenciais e parlamentares em um prazo de 100 dias.

O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse que Moscou também sugeriu um “cessar-fogo específico de dois a três dias em determinadas seções da frente” para que os corpos dos soldados mortos possam ser recolhidos.

De acordo com uma proposta de roteiro elaborada pela Ucrânia, cuja cópia foi vista pela Reuters, Kiev não quer restrições à sua força militar após qualquer acordo de paz, nenhum reconhecimento internacional da soberania russa sobre partes da Ucrânia tomadas pelas forças de Moscou e reparações.

(Reportagens adicionais de Lidia Kelly em Melbourne, Olena Harmash e Christian Lowe em Kiev, Ezgi Erkoyun em Istambul, Tuvan Gumrukcu em Ancara, Trevor Hunnicutt em Washington, Andrew MacAskill e Darya Korsunskaya em Londres, Guy Faulconbridge em Moscou e Maxim Rodionov em Londres)