A Rússia disparou nesta sexta-feira (29) mais de 150 mísseis e drones contra várias cidades da Ucrânia e provocou ao menos 18 mortes, em um dos ataques aéreos mais importantes em “muito tempo”.

“Nesta manhã, 150 mísseis e drones atacaram pacíficas cidades ucranianas”, afirmou nas redes sociais o procurador-geral ucraniano, Andrii Kostin.

“O inimigo utilizou 158 meios de ataque aéreo contra a Ucrânia durante a noite passada, tanto mísseis de tipos diferentes como drones”, indicou a Força Aérea ucraniana no Telegram, onde afirmou ter interceptado 114 desses mísseis e drones.

“Hoje, a Rússia utilizou quase todos os tipos de armas de seu arsenal”, disse Zelensky na rede X (ex-Twitter).

O Ministério da Defesa russo se limitou a comunicar que “teriam alcançado todos seus objetivos” e indicou que houve “um bombardeio de envergadura” entre 23 e 29 de dezembro contra infraestruturas militares, depósitos de munições e bases de soldados ucranianos e mercenários estrangeiros.

– “A horrível realidade” –

O ataque ocorreu três dias depois de Moscou ter reconhecido que o navio “Novocherkassk” foi danificado na terça-feira, devido a um bombardeio ucraniano em Feodosia, na península anexada da Crimeia.

Esta semana também ficou marcada pelo anúncio do Exército ucraniano de uma retirada para os subúrbios de Marinka, cidade no leste do país, que o Exército russo afirma ter conquistado.

Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira o desembolso de 250 milhões de dólares (1,2 bilhão de reais na cotação atual) em ajuda militar à Ucrânia, o mais recente pacote de apoio disponível ao governo sem a aprovação do Congresso.

“Fazemos tudo o que podemos para reforçar o nosso escudo aéreo, mas o mundo deve ver que precisamos de mais ajuda e meios para deter este terror”, acrescentou o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andrii Yermak.

“Há mortos por mísseis russos lançados contra instalações civis e edifícios civis”, denunciou Yermak no Telegram.

A embaixadora dos Estados Unidos em Kiev, Bridget Brink, reforçou o pedido, afirmando nesta sexta que a Ucrânia precisa “dos fundos de ajuda neste momento para continuar lutando por liberdade em 2024”.

Os atentados de sexta-feira ilustram “a horrível realidade” vivida pelos ucranianos, disse no X a coordenadora humanitária da ONU para a Ucrânia, Denise Brown, que denunciou “uma onda de ataques cheios de ódio”.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, condenou os bombardeios e acusou o Exército russo de atacar civis.

“Ontem à noite (quinta-feira), a Rússia lançou um dos maiores ataques desde o início da invasão da Ucrânia contra suas cidades e sua população”, denunciou o alto representante da União Europeia para política externa, na rede social X, qualificando esses bombardeios como “covardes” e “indiscriminados”.

– Maternidade atingida –

Durante as primeiras horas de quinta para sexta-feira, os prefeitos de Lviv (oeste) e Kharkiv (nordeste) relataram bombardeios noturnos contra suas cidades.

Os jornalistas da AFP também ouviram fortes explosões no início da manhã em Kiev. Em um bairro do norte da capital ucraniana, um hangar de 3.000 m2 pegou fogo, e houve “muitos feridos”, segundo o chefe da administração militar da capital, Sergei Popko.

Segundo o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, sete pessoas “estão atualmente internadas em um hospital”, e uma estação de metro usada como abrigo antiaéreo foi danificada.

Os bombardeios também afetaram as localidades de Dnipro (leste) e Odessa (sul), segundo as autoridades locais.

O Ministério da Saúde indicou que uma maternidade “foi muito danificada” em Dnipro, onde o prefeito relatou mortos e feridos.

Em Odessa, um prédio pegou fogo após ser atingido pelos restos de um drone abatido.

As autoridades locais indicaram que houve um morto e três feridos em Lviv, uma cidade situada a cerca de 70 km de fronteira com a Polônia, muito distante do “front” e onde os ataques têm sido muito raros nos últimos meses.

Polônia garantiu ter detectado um objeto voador “que chegou da fronteira com a Ucrânia” na cidade polonesa de Zamosc, no leste do país-membro da Otan.

Iniciada em junho, a contraofensiva ucraniana fracassou, e o Exército de Kiev não fez avanços territoriais ao longo de 2023, quando não houve mudanças significativas na frente de batalha.

Em uma entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o general alemão Christian Freuding, que supervisiona o apoio à Ucrânia por parte de seu país, reconheceu que a Rússia demonstrou “uma capacidade de resistência” maior do que a prevista pelos países ocidentais no início da guerra, em fevereiro de 2022.

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