Os Comitês Olímpico e Paralímpico da Rússia demitiram nesta sexta-feira o diretor de sua agência antidoping (Rusada), Yuri Ganus, que liderava uma campanha desde sua nomeação em 2017 para denunciar a falta de compromisso das autoridades contra o doping.

A decisão contra Ganus, uma das poucas vozes confiáveis na Rússia em questões antidoping, pode desacelerar os esforços de reintegração do país no esporte mundial.

“A assembleia geral decidiu demitir Ganus. A decisão foi tomada por unanimidade”, declarou o presidente do comitê olímpico russo, Stanislav Pozdniakov, durante uma entrevista coletiva.

O diretor da Rusada foi indicado após uma auditoria administrativa que o acusa de infrações.

“Esta decisão foi tomada apenas com base em divulgações de violações administrativas e econômicas”, da Rusada, acrescentou Pozdniakov, mostrando-se “convencido” de que a agência russa permanecerá “independente”.

Seu substituto como chefe da Rusada será nomeado dentro de seis meses. “Ficou claro novamente que o esporte russo não precisa de profissionais, sim, de pessoas que convêm”, observou no Instagram a superestrela do salto em altura Marita Lasitskene

– ‘Vingança’ –

Ganus, que esperava essa decisão, disse à AFP que “não significa nada de bom (para o esporte na Rússia), já que a Rusada se tornou um ponto para o restabelecimento da confiança” entre a Rússia e as autoridades esportivas no mundo todo.

Ganus, de 56 anos, denunciou a auditoria no início de agosto, considerando que seu objetivo era “vingança” por sua postura muitas vezes contrárias ao Kremlin.

Uma auditoria que Ganus chamou de “incompleta, infundada e questionável”.

Para a Agência Mundial Antidopagem (WADA), esta decisão “reforça suas preocupações.”

Nomeado em 2017, sem experiência esportiva ou científica, Ganus multiplicou suas posições incômodas para o governo russo, questionando Valdimir Putin, atacando o ex-ministro do Esporte Pavel Kolobkov, ou descartando a tese da diplomacia russa sobre um possível complô do Ocidente por meio de doping contra Rússia.

Ganus havia acusado as autoridades de seu país de serem responsáveis por falsificações do laboratório antidoping de Moscou, o que levou à expulsão da Rússia dos Jogos Olímpicos e competições esportivas mundiais por quatro anos.

Ao chegar à Rusada em 2017, dispensou 90% do quadro de funcionários e se impôs o desafio de reverter o procedimento de trabalho da agência, principalmente no que se refere aos exames antidoping.

– ‘Gosto da vida’ –

Seu prestígio de homem incorruptível permitiu que a Rusada fosse um dos poucos agentes do esporte russo a recuperar uma certa credibilidade na luta contra o doping, embora alguns o acusassem de fazer parte de um plano de Moscou para limpar sua imagem.

Mas as posições de Ganus ganham maior valor quando seus antecessores no cargo, Nikita Kamaïev e Viatcheslav Sinev, faleceram repentinamente, após revelações de doping estatal na Rússia.

“Declaro oficialmente que amo a vida, que não vou cometer suicídio”, escreveu ele no Twitter em julho, quando as primeiras denúncias de negligência foram veiculadas na imprensa, sugerindo que sua vida poderia estar em perigo.

De acordo com as acusações contra ele, pelo menos 110 milhões de rublos (1,24 milhões de euros no câmbio atual) teriam sido usados de forma fraudulenta em 2018 e 2019, evocando, por exemplo, gastos de táxi muito altos.

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