27/12/2019 - 20:08
A Agência Russa Antidoping (Rusada) anunciou nesta sexta-feira que enviou uma carta oficial para contestar a exclusão do país das competições esportivas mundiais por ter falsificado uma base de dados de controle antidoping.
“Enviamos documentos à Agência Mundial Antidoping (Wada), entre eles a notificação de nosso desacordo com as sanções”, declarou o diretor geral da Rusada, Yuri Ganus.
A Wada confirmou na sexta-feira que recebeu a notificação da Rusada e que, de acordo com o procedimento, iria rapidamente para o Tribunal de Arbitragem do Esporte (TAS). A decisão que o TAS tomará será final e comprometerá todos os signatários, recorda a agência.
Ganus assinou a carta depois de uma decisão das instâncias dirigentes da Rusada, ou seja, o conselho de vigilância e seus fundadores, os comitês olímpico e paralímpico russos.
O próprio Ganus rejeita a contestação e enviou à Wada uma segunda carta em seu nome, com sua opinião pessoal.
“Lamento informar que fracassei em meus esforços para mudar a opinião (dos órgãos com poder de decisão na Rusada) sobre esta notificação”, explica na carta.
Acusando novamente as autoridades esportivas russas de não estarem à altura, Ganus também apontou que, ao contestar a decisão da Wada, a Rússia assumiu “o sério risco” de ver as “sanções reforçadas e não suavizadas”.
Há algumas semanas, o diretor geral da Rusada atribui publicamente a culpa às autoridades russas por este escândalo e pediu ao presidente Vladimir Putin uma grande operação de limpeza para combater as fraudes.
A Wada anunciou em 9 de dezembro que a Rússia está proibida de participar nos principais eventos esportivos internacionais durante quatro anos, o que inclui os Jogos Olímpicos de 2020 e 2022 (Inverno) e a Copa do Mundo de 2022.
As sanções estabelecem que apenas atletas russos selecionados podem participar de competições, mas sob uma bandeira neutra e sem o hino nacional tocando.
A punição é severa porque a Wada considerou que a Rússia manipulou os dados do laboratório antidoping de Moscou enviados no início do ano, em mais um capítulo do escândalo que começou com a revelação, em 2015, de um esquema de doping institucional praticado desde 2011 e que envolvia altos funcionários do governo, agentes secretos e frascos de urina adulterados.
“A Wada continua convencida de que tomou a decisão certa em 9 de dezembro”, disse o presidente em exercício, Craig Reedie. “Vamos defender essa decisão da maneira mais forte possível no TAS”.
Segundo Ganus, a manipulação do banco de dados em questão, que estava nas mãos da polícia, provavelmente procurou proteger grandes nomes do esporte russo.
Já o Ministério do Esporte negou qualquer manipulação, Putin denunciou sanções “injustas”, e seu primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, afirmou que essa situação é uma “histeria anti-russa”.
Na semana passada, o presidente russo denunciou que a decisão da Wada foi “politicamente motivada”, considerando que “toda punição deve ser individual” e não coletiva.
Na Rússia, o esporte permanece ligado à política, já que Putin contou com grandes competições para aumentar o prestígio de seu país, organizando eventos como os Jogos Olímpicos de inverno em Sochi (2014) e os campeonatos mundiais de Atletismo (2013), natação (2015), hóquei no gelo (2016) e futebol (2018).
Para os atletas, que criticam o excesso de rigor da Wada, a exclusão da Rússia é vivenciada como uma nova catástrofe, após o país estar fora de várias competições desde 2015.
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