MOSCOU, 14 FEV (ANSA) – O governo de Vladimir Putin acusou nesta sexta-feira (14) o presidente da Itália, Sergio Mattarella, de “invenções blasfemas” depois que ele comparou a Rússia ao Terceiro Reich nazista por sua invasão à Ucrânia, durante um discurso na Universidade de Marselha na semana passada.
Segundo a agência Tass, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Moscou, Maria Zakharova, disse que o líder italiano “traçou paralelos históricos escandalosos e descaradamente falsos entre a Federação Russa e, como ele disse, a Alemanha nazista, pedindo que o fracasso da política ocidental de apaziguamento na década de 1930 fosse levado em consideração na resolução da crise ucraniana”.
A russa destaca ainda que tal coisa “não pode nem ser dita”. “É estranho ouvir tais invenções blasfemas do presidente da Itália, um país que sabe por experiência direta o que é o fascismo. Só que ele sabe diferente do nosso país”, acrescentou Zakharova, lembrando que a Rússia foi “submetida a um ataque monstruoso pela Alemanha de Adolfo Hitler”.
De acordo com ela, Moscou “não só conseguiu expulsar o inimigo de seu território, mas também trouxe de volta para casa, destruindo-o. E ao mesmo tempo libertou a Europa do nazismo e do fascismo”.
A porta-voz da diplomacia russa também afirma que, por algum motivo, Mattarella não se lembra de que lado seu país estava durante a Segunda Guerra Mundial e que “contribuição” ele deu a ela.
“Ele não sabia, ele não conhece bem sua história? Eu não acho”, acrescenta Zakharova, enfatizando que Mattarella “deveria pensar no fato de que hoje a Itália, junto com outros países da Otan, está bombardeando o regime terrorista neonazista em Kiev com armas letais modernas, apoiando assim incondicionalmente o regime criminoso em todos os seus crimes”.
Por fim, Zakharova conclui dizendo que “as palavras de Mattarella insultam a memória não apenas dos italianos que lutaram contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial e seus descendentes na Rússia e na Itália, mas também de todos aqueles que conhecem a história e não aceitam essas analogias inadmissíveis e criminosas”.
Na semana passada, Mattarella comparou a guerra deflagrada pela Rússia na Ucrânia com o projeto do Terceiro Reich na Europa. Em seu discurso, ele disse que “derivações autoritárias ganharam força em alguns países, atraídos pela ilusão de que regimes despóticos e antiliberais eram mais eficazes na proteção dos interesses nacionais”.
Além disso, afirmou que “uma sensação crescente de conflito, em vez de cooperação, se seguiu” e o “critério de dominação prevaleceu” e “guerras de conquista” permaneceram, do mesmo jeito que era o projeto do Terceiro Reich na Europa. “A atual agressão da Rússia contra a Ucrânia é exatamente dessa natureza”, acrescentou o italiano na ocasião.
Em meio à polêmica, o Palácio do Quirinale, sede da presidência italiana, anunciou que Mattarella está “absolutamente calmo” e diversos políticos criticaram Moscou.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, declarou que “os insultos” da porta-voz russa “ofendem toda a nação italiana” e expressou sua “total solidariedade, assim como a de todo o governo” a Mattarella.
Segundo a premiê italiana, ele “sempre apoiou firmemente a condenação da agressão perpetrada contra a Ucrânia”.
Já o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, prestou solidariedade a Mattarella pelas “palavras ofensivas que Moscou lhe dirigiu” e renovou, também em nome do partido conservador Força Itália (FI), sua plena “confiança no trabalho do chefe de Estado, reconhecido por todos como um homem de paz e autoridade”.
Por sua vez, o presidente do Senado da Itália, Ignazio La Russa, considerou “inapropriadas e deslocadas as declarações da porta-voz” de Moscou.
“Renovo minha estima e expresso minha proximidade pessoal e a do Senado ao chefe de Estado, Sergio Mattarella, guardião dos valores da República e ponto de referência para a nação”, concluiu ele em uma publicação nas redes sociais. (ANSA).