Cantado em verso e prosa pelo marketing petista como a solução para todos os problemas na Educação, uma das áreas primordiais para o futuro do País, o Pátria Educadora virou o símbolo de um desastre administrativo. Não bastassem os sucessivos cortes no setor, anunciados por Dilma, e as falhas no programa de financiamento estudantil, destinado a jovens, agora se sabe que a política pública lançada para ser o carro-chefe do segundo mandato da presidente afastada fracassou naquilo que deveria ser a matéria-prima do seu trabalho. Um levantamento realizado pelo Ministério da Educação mostra um alarmante aumento no índice de analfabetismo entre jovens de 15 a 29 anos em seis Estados brasileiros, desde 2013. Foi o primeiro registro dessa natureza em décadas. Nas palavras da secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães, os integrantes desse grupo são uma “geração perdida”. Parte dela, inclusive, concentra mães e chefes de família beneficiadas pelo Bolsa Família.
Diante desse quadro, a pasta tem se debruçado, nas últimas semanas, na elaboração de um programa voltado para a alfabetização. O processo foi iniciado a partir de um diálogo com o senador, ex-ministro da Educação de Lula e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Cristovam Buarque (PPS). O MEC está estudando a melhor forma de reverter esse cenário que, segundo o ministro Mendonça Filho (DEM-PE), virou prioridade de sua gestão.

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Os dados foram analisados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) entre os anos de 2013 e 2014. No Estado que registra maior crescimento, o Mato Grosso do Sul, o aumento de analfabetos entre 15 e 29 anos foi de 39%. O de menor aumento, Piauí, registrou índice de 4%. Segundo Maria Helena Guimarães, é possível identificar uma tendência. Significa, portanto, que o País corre o risco de ver agravado o flagelo do analfabetismo caso alguma medida drástica não seja tomada. “Isso é muito grave. Significa que uma jovem de 15 anos não sabe ler e escrever, embora tenha nascido no ano 2000, quando a escola estava praticamente universalizada”, afirma Maria Helena. “É muito triste, é uma geração completamente perdida. Sem contar nos jovens desempregados, sem ensino fundamental completo e analfabetos funcionais”, lamentou. Em julho de 2016, um novo levantamento foi feito com base no Cadastro Único do Bolsa Família e concluiu-se que 1,34 milhões de chefes de família não são alfabetizados.

Impactos negativos
A consequência do crescimento do número de analfabetos entre pessoas com mais de 15 anos é a mais negativa possível quando o foco é o crescimento e desenvolvimento do País. “O analfabetismo impacta fortemente o desenvolvimento econômico e também político e social, de cada grupo social, das famílias e dos indivíduos, além de restringir a liberdade das pessoas, o que impacta todas as dimensões da vida”, explica o diretor da Fundação Santillana, André Lazaro. Também preocupa o ministério a quantidade de mães que não sabem ler nem escrever, e têm filhos em idade escolar, e o número de analfabetos na faixa dos oito anos de idade. A taxa é, de fato, alarmante: entre as crianças com essa idade cursando o terceiro ano do Ensino Fundamental da rede pública, 48% não sabem ler nem escrever. Já no nono ano, entre 10% e 11% dos alunos não têm domínio completo da escrita. Só 28% têm domínio avançado de leitura e escrita e apenas 10%, de matemática.

Analfabetismo em crescimento
Seis Estados brasileiros registraram aumento no número de analfabetos entre 2013 e 2014
39%
Foi a taxa de crescimento do analfabetismo no Mato Grosso
do Sul. Subiu de 5.742 para 8.006

29%
Foi o índice no Acre, aumentando de 6.272 pessoas para 8.064

25%
Foi o aumento no Distrito Federal, de 2.692 analfabetos para 3.355

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7%
Foi a taxa em São Paulo,
de 53.468 para 57.190

5%
Foi o crescimento na Bahia,
de 95.191 para 99.775

4%
Foi o índice no Piauí,
de 28.494 para 29.710
Segundo Maria Helena, do MEC, o objetivo mais premente é assegurar a leitura e a escrita para os jovens brasileiros. “É uma questão muito séria. Nos últimos 13 anos, foi feito um esforço muito grande que não conseguiu atingir essa geração”, afirma. A secretária-executiva do Ministério da Educação adiantou que uma das estratégias será investir na formação de professores alfabetizadores para crianças do primeiro e do segundo ano do Ensino Fundamental. “Vamos começar com quem está entrando, mas também haverá um foco nos jovens de até 29 anos”. O desafio é enorme. Superar o analfabetismo da população adulta e idosa é ainda mais complicado, pois nessas faixas etárias as motivações para o estudo costumam ser menores. “Estudar exige esforço, dedicação, tempo e confiança no futuro. Até uma certa idade, a família tem autoridade para impor a frequência à escola. A partir de certo momento, cada jovem assume maior poder sobre suas escolhas e, ao que parece, a idade dessa decisão tem sido cada vez mais cedo”, explica André Lazaro, da Fundação Santillana. Por isso, mais prematura ainda deve ser a ação das autoridades. A educação tem pressa.


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