O secretário de Estado americano, Marco Rubio, ligou na manhã desta quinta-feira, 9, para o ministro de Relações Internacionais, Mauro Vieira, para iniciar as articulações para negociar a redução do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. Na conversa, Rubio convidou Vieira para ir aos Estados Unidos nos próximos dias para uma reunião presencial.
A conversa durou cerca de 15 minutos e foi vista com bons olhos pelo Palácio do Planalto. Para a cúpula palaciana, a ligação é uma sinalização de que há perspectiva de que as negociações avancem e que Rubio deixe de lado as ideologias políticas de lado para focar em uma solução.
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A rápida conversa entre os ministros foi a primeira sinalização dos EUA ao Brasil após a ligação entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump na última segunda-feira, 6. No telefonema, Lula pediu a Trump uma abertura de diálogo e que Rubio olhasse para o Brasil “sem preconceito”. Ambos ainda trocaram telefones pessoais e se comprometeram a se encontrarem na cúpula de países do Sudeste Asiático, na Malásia, no fim do mês. Lula também prometeu ir aos Estados Unidos, enquanto Trump disse que virá ao Brasil em breve.
No Planalto, a expectativa é que a viagem de Vieira para os Estados Unidos aconteça na próxima semana, mesma época em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, irá para Nova York. Haddad participará da cúpula de outono do G20, além das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele deve aproveitar a agenda para se encontrar com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, para discutir o tarifaço e as sanções impostas pela Casa Branca contra autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O tarifaço foi anunciado por Trump no dia 9 de julho em uma carta divulgada nas redes sociais. Na ocasião, a tarifa sobre produtos brasileiros passou de 10% para 50%. No documento, a Casa Branca deu justificativas políticas envolvendo o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses de prisão por participação na trama golpista. Mas a justificativa guardava em seu pano de fundo o incômodo de Donald Trump com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra big techs e a articulação do governo brasileiro para a criação de uma moeda única em transações entre países, desvalorizando o dólar.
Lula conseguiu dar a volta por cima após sua equipe passar a articular na miúda, sem barulho, com empresários e interlocutores nos Estados Unidos. O discurso em favor da soberania colou nos eleitores e nos congressistas, alavancando a popularidade do petista. Enquanto isso, governistas tentavam reverter o cenário junto à Casa Branca e Lula contou com a digital de um antigo aliado no setor empresarial: Joesley Batista, dono da JBS. Com 55% de sua operação nos EUA, Joesley conversou com Trump e acordou uma mudança de postura, sentida no encontro da ONU, quando o presidente americano disse ter tido uma “química” com Lula.
Ambos os presidentes convocaram seus principais nomes para negociar a redução do tarifaço. Do lado brasileiro, a missão ficará à cargo do vice-presidente Geraldo Alckmin, de Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Itamaraty). A Casa Branca nomeou Marco Rubio para liderar as articulações pelo lado americano.