Na entrevista, Chucho Valdés fala um pouco do concerto que traz ao Brasil, e diz que suas pesquisas sobre a riqueza dos ritmos afro-cubanos estão longe de se esgotar.

Em que consiste esse projeto que você faz em parceria com Gonzalo Rubalcaba?

É a reunião de duas gerações diferentes da música cubana, do jazz e da música em geral, incluindo todos seus caminhos possíveis dessa arte. Penso que é um projeto muito bonito porque Gonzalo e eu, apesar de muito diferentes, partimos das mesmas raízes, da música afro-cubana e do jazz também. Nossos pianos se completam na diferença, mas também no que nos une.

O que você pode me dizer do repertório do concerto?

Basicamente vamos tocar composições nossas, mas também músicas do repertório clássico cubano e temas standards de jazz. Em termos de Cuba, há um foco sobre Ernesto Lecuona, um dos compositores mais importantes da ilha. Também haverá temas brasileiros, dos quais eu gostaria de destacar um em particular, de Hermeto Paschoal, um músico e compositor fantástico.

Você tocou com muitos instrumentistas brasileiros, mas gostaria que falasse da experiência de dividir o palco com o João Donato, que talvez seja o pianista brasileiro que mais dialoga com a música caribenha.

Foi ótimo você ter lembrado do João Donato porque, com ele, tive uma parceria musical incrível e a turnê que fizemos juntos em 2015 foi simplesmente uma das épocas mais felizes da minha vida. Além de grande artista, ele é um sujeito maravilhoso, sempre de bem com a vida. Um homem feliz.

Em geral os músicos são felizes, não lhe parece?

Somos muito felizes porque fazemos o que gostamos. E fazemos os outros felizes porque, nos ouvindo, as pessoas se esquecem por um tempo dos problemas. Música é remédio. E sem contraindicações.

Existe a lenda de que você começou a tocar aos 3 anos de idade no Tropicana. Verdade?

Há um certo exagero. Meu pai era pianista e diretor artístico do Tropicana. Segundo meu pai e minha mãe, comecei a tocar o piano com 3 anos, mas em casa, não no cabaré. Fiz meu primeiro recital aos 9 anos. E aos 10 quase me contrataram. Havia um menino prodígio americano que tocava no Tropicana e o dono da casa propôs que a gente fizesse um dueto. Mas minha mãe nem quis ouvir falar, disse que eu ia perder o sono tocando à noite e não iria à escola. Foi minha primeira proposta de trabalho.

Essa fusão da música caribenha e o jazz é o fim do caminho ou pode se vislumbrar algo mais adiante?

Creio que não aproveitamos sequer uns 20% das possibilidades da música africana. No meu disco Missa Negra destaco a riqueza espantosa no toque da percussão, na rítmica do canto iorubá. Há muito que buscar. Eu estou trabalhando nisso agora mesmo. Meu novo disco chama-se Jazz Batá 2, continuação do primeiro, gravado em 1973. É um veio inesgotável.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.