O Brasil pode faturar R$ 150 bilhões por ano com o mercado de hidrogênio verde (H2V) até 2050, sendo que R$ 100 bilhões seriam provenientes das exportações da commodity, segundo a pesquisa Green Hydrogen Opportunity in Brazil (Oportunidade de Hidrogênio Verde no Brasil, em português), publicada em 20 de janeiro de 2023.

O atraente mercado de hidrogênio verde será impulsionado no Rio Grande do Sul, com a parceria entre a Rede Brasileira de Certificação Pesquisa e Inovação (RBCIP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do SUL (PUC-RS), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e a empresa Green World Energy (GWE). O trabalho em conjunto vai gerar inovação e novos produtos que serão fabricados no estado.

O grupo criou a REDLABSUL, laboratórios multiusuários integrados, para a elaboração do projeto do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Energia Renovável e Hidrogênio (CDT-ERH). No Centro, com o uso de um reator, o esgoto será tratado, e a água limpa servirá para a produção de hidrogênio verde.

“A ideia é trabalhar com a viabilidade técnica e econômica do hidrogênio verde não só na esfera pública, mas também na iniciativa privada. Esse projeto deve atrair muitos investimentos e ter um impacto muito grande na economia local. O espaço também poderá ser utilizado pelo meio acadêmico local e nacional “, disse o pró-reitor da UFRGS, Geraldo Jotz.

O presidente da RBCIP, Marcelo fiche, explica que o primeiro laboratório da REDLABSUL, situado no Parque Tecnológico da PUC, também será um centro de estudos, qualificação de mão de obra e produção de H2V.

“A planta será diferente de todas já existentes no Brasil, porque é piloto e, além de produzir hidrogênio a partir de energia fotovoltaica, energia eólica e a energia do GRID (sistema integrado nacional de energia), permitirá estudos com a integração das três”, explica Marcelo Fiche.

A estimativa da RBCIP é que a planta comece a operar em 2024 e, em um período de cinco a dez anos, devem ser gerados 20 mil empregos diretos e indiretos no Rio Grande do Sul, com os investimentos na produção de hidrogênio verde, atraídos pelo estado, na ordem de 10 bilhões de dólares. A previsão é que 500 engenheiros químicos, elétricos e mecânicos sejam qualificados no ano que vem para a produção de H2V.

O CEO  da empresa Green World Energy (GWE), Marcelo Vieira, explica que na planta serão feitos estudos de rotas importantes para o hidrogênio: o gás sintético, o diesel verde, chamado de HVO, o metanol verde, a amônia verde e os fertilizantes verdes. Além disso, o centro também realizará estudos EVTEA – de viabilidade técnica, econômica e ambiental.

“O objetivo desse trabalho é tornar o CDT-ERH um centro de excelência em pesquisas de hidrogênio verde no sul do país para que empresas privadas possam desenvolver suas pesquisas. A GWE se instalará no estado em dezembro deste ano, em parceria com a RBCIP, para vender eletrolisadores para a produção de H2V e no futuro instalará uma fábrica para produzir o equipamento. O Rio Grande do Sul conta com uma estrutura portuária propícia para o escoamento da produção, devido à posição estratégica e à sinergia com diferentes cadeias produtivas”, destaca Marcelo Vieira.

Hidrogênio verde no Brasil

O H2V é obtido por meio de um processo químico conhecido como eletrólise, em que se utiliza a corrente elétrica de fonte renovável para separar o hidrogênio do oxigênio que existe na água.
Atualmente, o Brasil não fabrica efetivamente o hidrogênio verde, mas possui alguns projetos em andamento. No entanto, um estudo internacional, feito pela consultoria alemã Roland Berger, aponta que o Brasil tem potencial para se tornar o maior produtor mundial em hidrogênio verde.

O país tem 87% da sua matriz energética oriunda de fontes renováveis como hidrelétricas, painéis solares e eólicas. Apesar disso, o Brasil ainda possui grande capacidade de expansão dessas fontes.

De acordo com Marcelo Fiche, presidente da RBCIP, o Brasil deve usar suas fontes naturais para produzir além do hidrogênio verde, outros produtos oriundos do H2V que gerem valor adicional na comercialização das commodities.

“Há uma tentativa de aproveitar a produção de hidrogênio para gerar maior valor agregado em produtos que o Brasil produz. Ao invés de exportar aço, o país pode exportar aço verde, exportar amônia verde, hidrogênio verde ao invés do cinza e agregar valor. E a própria cadeia de produção de equipamentos na indústria que está nascendo, fortalecendo a indústria nacional.”

Fiche acrescenta que no mercado interno, existem oportunidades de descarbonização para diversos setores industriais importantes como cimento, aço, alimentício, fertilizantes, petroquímico, dentre outros.

Produção mundial

Em 2021, a demanda global por hidrogênio em todo mundo foi de 94 milhões de toneladas. A maior parte desta demanda foi produzida por meio de fontes fósseis, geralmente gás natural. A estimativa é que até 2050, a demanda pelo combustível de baixo carbono chegará entre 350 e 530 milhões de toneladas por ano. Com o aumento do consumo, os países de todo mundo tentam usar energias renováveis para cumprir o Acordo de Paris com a redução do efeito estufa agravado pelas emissões do carbono. A guerra na Ucrânia e a elevação do preço do gás russo fizeram com que vários países europeus antecipassem os seus planos de transição energética, em particular, os investimentos em hidrogênio renovável. Entre os principais países que atuam no setor de hidrogênio, destaca-se a Alemanha como grande importador, bem como a Austrália e o Chile como grandes exportadores. Já a China é o maior produtor de hidrogênio do mundo, com uma produção anual de cerca de 33 milhões de toneladas, a maioria de origem fóssil, mas pretende ter uma produção anual de hidrogênio verde de 100 mil a 200 mil toneladas até 2025.