Enquanto a maioria dos municípios brasileiros amarga uma grave crise fiscal, sem dinheiro para nada, a turística Ilhabela, no litoral paulista, vê suas receitas se multiplicarem ano após ano. Desde que entrou para o rol dos “novos ricos” do pré-sal, a cidade virou uma fábrica de inaugurações. Só neste mês, a prefeitura entregou para a população nove novas obras, que vão de pontes e quadras poliesportivas a pavimentação de ruas.

Essa tem sido a rotina da prefeitura desde que o Campo de Sapinhoá, na Bacia de Santos, entrou em operação em 2013. Hoje, Ilhabela é a cidade que mais recebe royalties do petróleo em São Paulo, com 32,5% de todo o volume do Estado. Para se ter uma ideia do avanço, no primeiro semestre de 2011, a cidade arrecadou com royalties R$ 21,385 milhões e no primeiro semestre deste ano, foram R$ 148,202 milhões, um aumento de 593%.

“Os royalties já representam 70% do nosso orçamento; hoje somos reféns desses recursos.”, afirma o prefeito Márcio Tenório PMDB), eleito no ano passado. Segundo ele, sem esse dinheiro, a prefeitura só teria caixa para pagar os salários funcionários, que consomem 27% do orçamento. “Por isso, temos de trabalhar bem o destino desses recursos, porque ele tem prazo de validade.”

Há, no entanto, controvérsias em relação à escolha dos projetos. Enquanto a ala empresarial elogia as melhorias na aparência da cidade, os moradores reclamam da falta de infraestrutura. Uma parte dos grandes investimentos feitos até agora beneficia a área turística da cidade, que ganhou cara nova nos últimos anos.

As mudanças aparecem já na entrada de Ilhabela com uma enorme escultura, em aço, do artista Gilmar Pinna. A obra faz parte do projeto de revitalização que padronizou as calçadas na praça, fez o alargamento das vias e um estacionamento. O projeto custou R$ 9 milhões e foi inaugurado no ano passado.

A cidade, conhecida como a capital da vela, também ganhou uma sede nova para a prefeitura, o empreendimento consumiu outros R$ 17 milhões. Inaugurado em 2016, o complexo suntuoso chama a atenção pelo tamanho e por ser construído em vidro espelhado. No total, são sete blocos que abrigam as secretarias municipais, o gabinete do prefeito e um auditório.

Bem cuidada

Nas ruas da ilha, de 35 mil habitantes, tudo parece em ordem. Os imóveis são bem cuidados, as pontes são novas, a ciclovia ganhou alguns quilômetros a mais e os ônibus têm ar-condicionado e Wi-Fi. “Percebemos que houve muita melhora nos últimos anos, especialmente para o turista. Há calçamento nas ruas do centro e os prédios públicos estão bem cuidados”, afirma Daniel Juliano Fernandes, trabalhador de um hostel na Praia de Perequê.

O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela, Wilson Santos, diz que também houve grandes avanços na parte de eventos promovidos pela prefeitura na baixa temporada, o que ajuda o comércio local. O Miss Brasil 2017, por exemplo, foi realizado na ilha.

Para os moradores, porém, é hora de melhorar a infraestrutura dos bairros onde vivem. “Até agora só vimos o investimento na parte de turismo; nos bairros, as coisas continuam igual”, afirma Dioneia Conceição Afonso. A reclamação é compartilhada por Patrícia Gonçalves, trabalhadora de uma banca de jornal. “A estrutura das escolas também precisa melhorar; tem dia que pedem até papel sulfite.”

O prefeito Márcio Tenório garante que essa é a bandeira da gestão atual. “Vamos transformar a cidade com os royalties”, diz ele, referindo-se ao novo plano plurianual e criticando a administração anterior. Na semana passada, uma das obras inauguradas por ele foi a pavimentação de ruas nos bairros. Outra iniciativa foi destinar 10% da arrecadação dos royalties para saneamento básico. Hoje, apenas 42% dos moradores da cidade têm rede de esgoto. Neste ano, já serão aplicados R$ 27 milhões em uma nova estação de tratamento de esgoto. Em 2018, serão investidos outros R$ 83 milhões.

“Em quatro anos, queremos universalizar os serviços de saneamento básico”, diz o prefeito. Outra medida será regularizar a questão fundiária. A cidade tem 15 núcleos de moradias irregulares. A meta da prefeitura é zerar o déficit habitacional, de 700 casas. “Acabamos de lançar um pacote de R$ 41 milhões em obras; isso significa geração de emprego e renda para a população local.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.