Com a ampliação do porte de armas e a proibição dos livros, Ron DeSantis se tornou um defensor dos conservadores americanos por sua agenda antiliberal, mas isso não foi suficiente para que disputasse a Casa Branca com Donald Trump, a quem o governador da Flórida deu seu apoio no domingo (21), ao suspender sua campanha.

Durante anos, DeSantis transformou seu estado na linha da frente da batalha pela alma dos Estados Unidos, apresentando-se como uma versão do trumpismo sem o caos que acompanha o ex-presidente, com uma dupla acusação criminal.

Mas, embora DeSantis tenha mantido o segundo lugar nas pesquisas durante vários meses, Trump continua sendo o favorito entre as bases republicanas, que não viam razão para apoiar uma versão “light” do ex-presidente do movimento MAGA (“Make America Great Again”) quando poderiam ter a verdadeira.

DeSantis buscou confrontar políticos, empresas e professores “woke” (progressistas) de visão liberal, os quais acusou de imporem sua ideologia aos americanos.

Suas iniciativas mais impactantes incluíram a expansão do direito ao porte de armas, a imposição de leis restritivas ao aborto e a proibição de discussões sobre identidade de gênero e sexualidade nas salas de aula. Suas políticas educacionais levaram à retirada de dezenas de livros das bibliotecas escolares.

Durante algum tempo, a indignação foi acompanhada de aplausos nos círculos mais conservadores dos Estados Unidos, e a cobertura da imprensa deu-lhe projeção nacional.

No entanto, não era o mesmo que competir politicamente no cenário nacional. DeSantis muitas vezes parecia desconfortável em eventos de campanha e em debates, oprimido por sua aparente aversão aos aspectos sociais de uma corrida presidencial.

Seus grandes gastos de campanha e seu hábito de contar com um círculo restrito de assessores liderado por sua esposa, Casey DeSantis, também prejudicaram sua candidatura.

– ‘Aposentado’ –

Nascido em Jacksonville, Flórida, em 14 de setembro de 1978, DeSantis frequentou a Universidade de Yale e depois a Faculdade de Direito de Harvard.

Exerceu o Direito no Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e ingressou na política em 2012, quando conquistou uma cadeira na Câmara de Representantes.

Em sua disputa para governador da Flórida em 2018, DeSantis obteve o apoio importante do então presidente Trump nas primárias republicanas, após elogios efusivos. Derrotou por pouco seu adversário democrata, apesar de uma onda de derrotas republicanas em outras partes do país.

Quatro anos depois, foi reeleito com uma vitória esmagadora e começou a se posicionar para a Casa Branca. Mas, à medida que seu perfil crescia, sua relação com Trump azedava e o bilionário atacou-o como “Ron DeSanctimonious”.

As dúvidas sobre a elegibilidade de Trump aumentaram, após seu indiciamento por um crime financeiro grave, uma declaração de responsabilidade civil em um caso de agressão sexual e de investigações criminais sobre supostas interferências eleitorais e má gestão de documentos confidenciais.

DeSantis não conseguiu capitalizá-los, porém, cometendo erros que levantaram sinais de alerta sobre seu próprio preparo para o cargo mais alto do país.

Uma disputa amarga com a Disney, a maior empresa privada da Flórida, sobre as suas políticas confundiu os defensores do livre-mercado, enquanto a proibição do aborto de seis semanas preocupou outros sobre sua falta de conexão com a opinião pública.

Observadores em Washington já consideravam-no derrotado antes mesmo dos “caucuses” de Iowa na semana passada, nos quais ficou muito atrás de Trump.

Sua decisão de abandonar a corrida pela nomeação republicana ocorre menos de dois dias antes das primárias em New Hampshire, onde as pesquisas afirmam que estaria muito longe de Trump e de Nikki Haley, ex-embaixadora na ONU.

Repórteres em New Hampshire perguntaram a Trump no domingo se ele continuaria usando o apelido de “Ron DeSanctimonious”.

“Esse nome está oficialmente aposentado”, respondeu o ex-presidente.

ft/bgs/st/des/cjc/arm/aa/tt