Candidato extremista é barrado na Romênia após acusação de campanha com apoio russo

Admirador de Putin e de antigos fascistas romenos, Calin Georgescu havia surpreendido ao liderar primeiro turno de pleito em novembro, que foi posteriormente anulado em meio a suspeitas de interferência russa.

Candidato extremista é barrado na Romênia após acusação de campanha com apoio russo

Autoridades eleitorais da Romênia rejeitaram neste domingo (09/03) a candidatura do ultradireitista Calin Georgescu na nova eleição presidencial suplementar marcada para maio, provocando indignação entre seus partidários em Bucareste.

Georgescu, um fundamentalista cristão ortodoxo, admirador de Vladimir Putin e de antigos fascistas romenos, que até recentemente era praticamente ignorado pelo establishment político, ganhou destaque em novembro do ano passado quando liderou o primeiro turno da eleição presidencial, ao obter 23% dos votos numa eleição marcada por baixo comparecimento e pulverização de candidatos.

Posteriormente, o Tribunal Constitucional da Romênia anulou o pleito pouco antes do segundo turno, que seria realizado em 8 de dezembro, após alegações de interferência russa e uma promoção “maciça” a favor de Georgescu nas redes sociais, especialmente no TikTok.

Nascido em 1962, engenheiro agrônomo, sem filiação partidária, mas ativo na cena de extrema direita da Romênia há vários anos, Georgescu esperava se candidatar novamente nas eleições suplementares. Pesquisas de opinião chegaram a apontar que ele poderia conquistar cerca de 40% dos votos no novo pleito.

Após sua nova candidatura ser barrada, Georgescua chamou a medida das autoridades eleitorais como “um golpe direto no coração da democracia em todo o mundo”. “A Europa agora é uma ditadura, a Romênia está sob tirania!”, acrescentou.

A decisão provocou confrontos entre apoiadores de Georgescu e a polícia na capital Bucareste. Várias centenas de pessoas se reuniram em frente ao prédio da Comissão Eleitoral na noite de domingo, gritando “Abaixo a ditadura!” e arremessando bandeiras da Romênia.

Crise política

A Romênia está mergulhada em turbulência política desde o primeiro turno da eleição presidencial no final de novembro, quando Georgescu surpreendeu ao terminar em primeiro lugar. Praticamente um desconhecido, ele nem chegou a figurar inicialmente nas pesquisas pré-eleitorais.

Georgescu também não liderou uma campanha eleitoral tradicional. Além de não contar com um partido ou organização, ele mal apareceu na mídia tradicional durante a campanha. Ao final do primeiro turno, ficou claro que ele nem mesmo contava com um QG oficial de campanha.

Após o choque entre a classe política tradicional, em uma atitude rara para um país-membro da União Europeia, O Tribunal Constitucional da Romênia anulou a votação após alegações de interferência russa.

Nas últimas semanas, dezenas de milhares de apoiadores de Georgescu saíram às ruas, enquanto as autoridades romenas alertaram sobre “ações híbridas realizadas pela Federação Russa para minar a democracia na Romênia”.

Georgescu – que nega qualquer ligação com Moscou – denunciou a anulação da eleição original como um “golpe de estado formalizado”.

Na semana passada, promotores também indiciaram Georgescu por várias acusações, incluindo “declarações falsas” sobre o financiamento de sua campanha, bem como “instigação a ações contra a ordem constitucional”. Ele foi colocado sob controle judicial, o que significa que terá que se apresentar às autoridades regularmente.

Mas, numa reviravolta, membros do alto escalão do governo dos EUA sob Donald Trump recentemente manifestaram simpatia por Georgescu.

“Isso é loucura!”, escreveu o bilionário de ultradireita Elon Musk, no X, no domingo, após a divulgação da decisão das autoridades eleitorais. Já o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, já criticou as autoridades romenas por “cancelarem as eleições porque não gostaram do resultado”, alegando que elas têm “tanto medo do seu próprio povo que o silenciam”.

Incentivados por essas declarações, os manifestantes em um comício recente em Bucareste seguraram faixas com os dizeres “Sr. Presidente Trump, precisamos de sua ajuda para recuperar nosso país” e “A Romênia quer paz”.

Anti-UE e admirador de fascistas

Calin Georgescu trabalhou por décadas no aparato estatal romeno, inclusive em posições de direção e aconselhamento no Ministério do Meio Ambiente e no Ministério das Relações Exteriores. Há pouco mais de uma década, ele passou a aparecer cada vez mais em público com publicações em redes sociais nas quais expressava opiniões de teor fundamentalista cristão e de extrema direita, além de mensagens antiocidentais e pró-russas recheadas com teorias conspiratórias.

Ele chegou a atuar no partido de extrema direita AUR, mas se desentendeu com seu presidente, George Simion.

Georgescu também está sob investigação criminal desde 2022 por suspeita de glorificar a antiga Guarda de Ferro romena, também conhecida como “Movimento do legionário”, um grupo fascista que existiu na Romênia entre 1927 e 1941 caraterizado por um violento antissemitismo e por diferir de outros movimentos fascistas europeus da época por causa da presença de fortes elementos do cristianismo ortodoxo.

Em 2020, Georgescu afirmou que considerava Ion Antonescu – um antigo ditador romeno que foi aliado de Adolf Hitler – e Corneliu Zelea Codreanu – o fundador da Guarda de Ferro – como “heróis”.

Georgescu também já disse que acreditar que a Guerra da Ucrânia foi causado pelos EUA – e não pela Rússia. Em outra ocasião, ele afirmou considerar e que “a sabedoria russa é a chance da Romênia”.

Em 2020, ele publicou um vídeo em que aparecia tomando banho em água fria, dizendo que essa era a melhor vacina contra o coronavírus. Em um podcast de 2024, ele disse que a covid “não existe”, e que “a única ciência real é Jesus Cristo”.

Georgescu também é a favor da saída da Romênia da União Europeia e da Otan.

(AFP, DW)