Um urso que parece dormir à beira de uma sinuosa rodovia obriga os carros a desviarem de sua rota no centro da Romênia, onde estes animais se aventuram cada vez mais fora das florestas, gerando medo e debate.

“Foi algo incrível. Parece estar calmo, sem nenhuma preocupação”, disse Mike, um turista israelense de 72 anos que saiu de seu veículo para fotografar o animal.

Na frente deste urso macho de sete ou oito anos estão três guardanapos que sobraram de um sanduíche que lhe foi jogado de um carro.

A Romênia tem a maior população de ursos-pardos da Europa, quase 8.000, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Cada vez mais, eles saem das florestas, gerando debate entre os romenos.

Diante do aumento de ataques, o país elevou a quota de caças para 220 em 2023, frente às 140 anteriores, e há apelos para que sacrifiquem as espécies protegidas por uma organização da União Europeia.

– “Nada romântico” –

Diferentemente dos turistas, os moradores temem encontrar estes mamíferos com mais frequência nas cidades.

Ao todo, foram registrados 154 ataques entre 2016 e 2021, com 158 pessoas feridas e 14 mortos, de acordo com números recentes que indicam uma tendência de alta.

Fekete Tibor cuida de 70 vacas em uma região montanhosa vizinha à cidade de Lazaresti.

“Os ursos causam danos e colocam nossas vidas em perigo”, diz o homem de 40 anos. Ele afirma que três de suas vacas foram mortas este ano e que é caro manter os seis cães que protegem seu rebanho. Tibor é a favor da morte destes animais, uma opinião popular na região.

A cerca de 30 km dali, na cidade de Miercurea Ciuc, um urso de seis anos entrou no pátio de uma escola em setembro e subiu em uma árvore. A equipe de intervenção decidiu matar o animal em vez de assustá-lo ou tranquilizá-lo, preocupada com a segurança dos mais de 1.700 alunos do colégio.

“Ele pode atacar [quando atingido por um tranquilizante], e quem assume a responsabilidade se alguém se machucar?”, questionou o prefeito Attila Korodi.

“Acho que a Europa vê a Romênia não só como uma espécie de santuário, mas como um museu onde tudo deve se manter intacto”, disse este ex-ministro do Meio Ambiente. “Há muito romantismo nesta situação, quando no dia a dia com os ursos não é nada romântico”, completou.

Ainda que a população destes animais tenha aumentado, a caça esportiva a esta espécie é proibida desde 2016 na Romênia. O Parlamento arquivou uma proposta para permitir o abate de quase 500 ursos por ano.

– Convivência –

Não muito longe de Miercurea Ciuc, a cidade turística de Baile Tusnad está estudando uma forma de lidar melhor com estes animais.

“Devemos entender que os ursos não vão sumir desta área. Mas se o urso não se sente seguro, não permanecerá na aldeia”, disse à AFP o biólogo Imecs Istvan, criticando a atitude dos turistas de alimentá-los.

Com suas orientações e a de grupos ambientalistas como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), a cidade testou lixeiras à prova de ursos e instalou 400 cercas elétricas ao redor das casas e outros depósitos de lixo para manter estes animais afastados. Um aplicativo também ajuda na tarefa, explicando como agir para evitar problemas com estes plantígrados.

Depois de receber 50 reclamações de danos em 2021, o número caiu para zero em 2022 e 2023.

“Quem diz em Tusnad que não tem medo de ursos é mentiroso ou estúpido. A gente se acostuma com a convivência, não tem outro jeito”, disse Laci, um homem que foi convencido pela esposa a instalar uma cerca elétrica ao redor de sua casa.

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