Aos 76 anos, Roger Waters continua o mesmo rebelde de sempre, com tanta fibra quanto antes. “Estou até a tampa de energia”, diz ele em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo durante o Festival de Veneza, onde apresentou o documentário sobre sua última turnê, Us + Them, que será exibido exclusivamente nos cinemas no dia 6.

A turnê passou pelo Brasil fazendo barulho no fim de 2018 – o músico chegou a ser ameaçado de prisão se fizesse manifestação política durante o período eleitoral. “Tivemos de negociar com a polícia e os magistrados porque eles ficavam dizendo que iam me prender”, conta Waters. “E não me deixaram visitar o Lula na prisão. Mas tudo está começando a ficar claro agora”, completa ele, para quem sociedades de economia neoliberal sempre correm o risco de cair no totalitarismo. “Mas a eleição foi muito bizarra, as pessoas estavam muito divididas, brigas aconteciam.”

Waters, um dos fundadores do Pink Floyd, nunca teve medo de deixar claras suas opiniões políticas – ele se recusa, por exemplo, a se apresentar em Israel por ser defensor de um tratamento diferente para os palestinos. Mas diz não temer por sua segurança. “Eu sei que há riscos. Toda vez que apareço na imigração nos Estados Unidos, espero que me mandem me f…”, afirma. “O lobby israelense tentou me destruir, só porque acredito que o governo do país poderia tratar os palestinos de outra maneira.”

Ele também critica a campanha do presidente americano Donald Trump para erguer um muro na fronteira com o México – o que faz sentido para quem escreveu uma ópera-rock chamada justamente The Wall. “É um desperdício de tempo, energia e dinheiro. Precisamos derrubar os muros e cooperarmos uns com os outros”, garante o músico britânico. “Fora que é absurdamente retrógrado, o ato de um bufão homicida, que é o que Trump é. Mas ele não é o único.”

No documentário Us + Them, cenas do show são intercaladas com uma história sobre refugiados e pessoas oprimidas pela guerra. “Mas não tivemos tempo de filmar tudo o que queríamos”, recorda.

Roger Waters sempre gostou de cinema e foi marcado pelo neorrealismo do pós-guerra – ele nasceu em 1943, e seu pai, Eric Waters, morreu em combate na Itália, em 1944, quando o futuro músico tinha apenas 5 meses.

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As imagens do palco foram todas gravadas em Amsterdã. “Não me lembro direito por que escolhemos, mas acho que foi por causa da logística. E também porque o público holandês é relativamente entusiasmado. Nada como os sul-americanos, mas também não chega a ser a Bélgica ou a Nova Zelândia – desculpas aos dois países”, explica ele, rindo.

As cenas de plateia, porém, foram capturadas em todo o mundo. Impressiona a quantidade de caras jovens. “Eu fico cada vez mais velho, mas o público, não, fico feliz de dizer”, afirma. “Meus contemporâneos também ficam cada vez mais velhos, mas sua audiência envelhece com eles”, conta Waters, que anuncia shows pelos EUA em 2020.

Estar hoje nos palcos não é tão fácil quanto parece, segundo Waters. “Eu faço bastante academia quando estou na estrada e sempre como coisas saudáveis, nada de alimentos processados”, diz. “As luzes também fazem muito mal, e a música alta destruiu meus ouvidos, o que torna o equilíbrio um problema. Preciso tentar não cair no palco ou do palco. As pessoas se machucam! O Bono caiu do palco cerca de um ano atrás. Eu achei que ia morrer de tanto rir”, completa, com um sorriso malandro de menino – um menino de 76 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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