Rodriguinho reconhece que sua participação no BBB 24, da Globo, trouxe mudanças para a sua vida profissional e pessoal. As críticas que recebeu por seu comportamento dentro do reality show diante de assuntos machistas, racistas e xenofóbicos – que ele define como “militantes” – serviram para o cantor buscar conhecimento fora da casa mais vigiada do Brasil.

Apesar da transformação interna que diz ter passado, ele reforça que não se arrepende de nada do que falou dentro do programa.

“Eu, por ser mais velho do que todos na casa, ser de uma outra época, sei que tem coisas que a gente fala, que sempre falou na vida, mas que eu nunca pensei que pudesse gerar tanta coisa. Tenho certeza que eu não ofendi ninguém. Não cometi nenhum crime de fala. Nenhum. Isso eu tenho certeza. Mas também vi que algumas coisas que eu falei atingiram algumas pessoas sem [eu ter] noção mesmo”, declarou em entrevista exclusiva ao site Istoé Gente.

Durante o confinamento, o artista falou do corpo de Yasmin Brunet em conversa com outros homens, fez comentários sobre a cultura da Amazônia, estado de origem de Isabelle Nogueira, e ameaçou entrar em uma briga física com Davi Britto. A respeito da relação conturbada com a filha de Luiza Brunet, Rodriguinho reforça que o comentário foi um elogio.

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“Não me arrependi do que eu falei. Quando falei, não estava denegrindo ninguém, não estava querendo atingir ninguém. Quando eu falei no quarto, por exemplo, [do corpo da Yasmin]: ‘Ah, mas quando eu vi a pessoa no Instagram, parecia melhor’. Pô, irmão, ela já foi melhor, hoje ela é mais velha, mas continua linda. Quando eu falo isso, na minha cabeça, eu estou defendendo”, justifica ele, que pediu desculpas após os dois deixarem o programa.

“A gente teve uma conversa e foi tão tranquilo, ela disse que entendeu o que aconteceu, que sabe que eu não quis o mal dela e que a gente tinha uma história ali dentro, e eu pedi desculpas. A gente ficou bem. Todo mundo comprou uma briga, mas agora a gente está bem”, ressalta.

Ao ser questionado a respeito de que atitudes assim não são mais toleradas pela sociedade, Rodriguinho se defendeu:

“Mas as pessoas não têm informações. Elas pegam aquela informação na hora, já te xingam, mas nunca param para falar: ‘Peraí, o que foi falado? O que é isso aqui?’ Tanto que algumas pessoas falaram que entenderam o que eu quis dizer, mas muitas outras não entenderam. E como ficar debatendo isso? Não tem como debater”.

Após esse episódio, o cantor procurou buscar ajuda, mas reforça que tudo não passa de um conflito geracional e que se as falas dele tivessem sido ditas há alguns anos, as pessoas teriam tolerado.

“Vi onde errei, entendi que tem coisas que fazem parte do patriarcado do nosso país e tal. Só que eu tenho 46 anos, eu não tenho 20. É a mesma coisa que a gente falar alguma coisa da nossa mãe na época dela. Longe de mim querer passar pano em qualquer coisa, mas tudo o que aconteceu comigo foi muito erro de interpretação. Mas eu tive que me instruir e hoje eu sei. Jamais faria isso novamente”, pondera o artista, que fez aulas de letramento após deixar o programa.

Rodriguinho acredita que a pressão da competição no reality atrapalha a forma como os confinados se comportam e pode causar problemas emocionais e físicos.

“As pessoas falam que tem que ter uma preparação para o programa, mas eu acho difícil, porque você é jogado ali dentro e tudo é feito para mudar a sua cabeça, para você ficar tenso e sair de si. Desde a pouca comida que você come, o horário que você acorda, a quantidade de sono que você tem. Lá dentro eu tive crise de ansiedade, insônia todas as noites, meu corpo encheu de feridas, tive infecção urinária. Tudo isso é estresse. E dentro de uma situação dessas, às vezes você não tem muito controle, é difícil”.

Tênis de R$ 10 mil

Rodriguinho também comentou sobre a fama de soberbo que o acompanhou no reality depois de falar sobre os bens de luxo que adquiriu ao longo da carreira. O cantor não entende o motivo de não aceitarem que ele atingiu um patamar de sucesso.

“Eu não sabia o que estava acontecendo. E nunca pensei também que eu falar sobre algumas vitórias que eu tive na minha vida incomodariam tantas pessoas. Nunca pensei que eu falar que eu tenho um tênis que custa R$ 10 mil fosse incomodar. Nunca pensei que eu falar que eu tenho uma moto ‘x’ incomodaria as pessoas”, pontua.

“Nunca foi um terror de querer me sobressair em cima de ninguém. Foram conversas. Nunca pensei que falar que eu saí em muitas capas de revista geraria um tumulto aqui fora. São coisas que eu conquistei. Eu posso ter um tênis de 10 mil? Posso satisfazer algum sonho meu?”, questiona ele alegando ser alvo de discriminação.

“Acho que isso entrou em um terreno que eu nunca quis entrar, que é o da militância, um terreno de preconceito por causa do segmento do samba. Por mais que o samba esteja no melhor momento, eu acho que ele ainda não atingiu o que eu vejo outros segmentos atingirem, na questão do respeito, [como acontece] com o sertanejo. Um artista de sertanejo estoura uma música e vai para o topo, vira um artista reconhecido no Brasil inteiro. O samba tem que ter muitas músicas para acontecer”, argumenta o cantor, que lançou o livro “Rodriguinho Fora da Caixa – Um Novo Ciclo” logo após deixar o BBB.

“Escrevi o livro nos 15 primeiros dias depois que saí. Estava tudo muito fresco na minha memória. Além disso, a minha esposa gravou áudios do dia que eu entrei na casa até o dia que eu saí, dizendo o que aconteceu aqui fora, ‘o Brasil não gostou muito, começou a te xingar…’. Então, com esses 51 áudios, eu consegui entender exatamente a minha trajetória ali dentro e lembrava do que acontecia. Foi o que me ajudou a escrever o livro”, completa.

“Eu sempre vivi muito para a música, mas o ‘BBB’ me mostrou que não é só a música, é o meu modo de vida, as pessoas querem saber tudo de você hoje em dia, todo o trajeto, os percalços, até você ser um artista consolidado”, conclui.