A IstoÉ realizou na tarde desta sexta-feira uma excelente live com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. A conversa foi conduzida pelo diretor editorial da Editora 3, Carlos Marques, e pelo diretor de redação da IstoÉ, Germano Oliveira, e cobriu todos os assuntos relevantes do momento, da tensão entre os poderes da República ao andamento das reformas tributária e administrativa, do combate ao coronavírus à retomada econômica pós-pandemia.

Maia usava um agasalho de moleton com capuz. Estava descontraído nas roupas, mas afiado nas declarações. Goste-se ou não do deputado, é inegável que ele tem uma noção clara do espaço institucional que ocupa como presidente da Câmara.

Em geral, ele discorre de maneira desapaixonada sobre assuntos quentes. Procura não exacerbar tensões. Rebateu, por exemplo, a interpretação de que o governo Bolsonaro procurou prejudicar adversários políticos como os governadores João Doria e Wilson Witzel na discussão sobre o repasse de recursos federais aos Estados – um socorro devido às perdas tributárias durante a pandemia.

Mas Maia também não assume aquele tom complacente de quem deixa passar qualquer coisa. Não tem meias palavras, por exemplo, para o ministro da Educação Abraham Weintraub. “Um personagem como ele não deveria estar em nenhum ministério”, disse.

Comento aqui três detalhes da entrevista, que merece ser vista na íntegra.

1 – A reportagem de capa de IstoÉ desta semana traz detalhes sobre o “sistema particular de informação” que serve ao presidente, segundo sua própria afirmação no encontro ministerial de 22 de abril. Maia não quis antecipar julgamento, e disse ter imaginado que o presidente se referia a alguma rede informal de “fofoqueiros”. Mas deixou claro que qualquer indício concreto precisa ser investigado pelo Ministério Público. “Se houver um sistema paralelo será inaceitável”, disse. Ele também não passou pano para o deputado Eduardo Bolsonaro, que falou nesta semana em ruptura institucional. O filho do presidente deve ser alvo de processo na Comissão de Ética da Câmara.

2 – Maia disse que precisa haver uma resposta do Legislativo contra as fake news. Deixou claro que vai atuar para que o projeto que hoje está em discussão no Senado tenha a tramitação mais rápida possível. Mas também afirmou que as redes sociais e plataformas de mensagens devem se responsabilizar pelo conteúdo que publicam. Como já observei aqui, as grandes empresas de tecnologia vão mover mundos para impedir que isso aconteça, o que pode atrasar a aprovação de uma lei.

3 – Maia fez questão de frisar que a renda emergencial para os milhões de brasileiros que se viram em dificuldades com a pandemia foi medida articulada pela Câmara. O governo hesitou bastante em disponibilizar o benefício, e pretendia inicialmente pagar apenas R$ 200,00. Foi também a pressão do Congresso que elevou o valor para R$ 600,00. Aos poucos, porém, o mérito pelo pagamento vai sendo atribuído ao Executivo. As pesquisas de opinião mais recente, a despeito de mostrarem uma redução no apoio ao governo Bolsonaro, revelam nas filigranas que ele ganhou algum fôlego entre camadas mais pobres, justamente aquelas para quem o auxílio de emergência representava se traduzia em ter ou não comida na mesa. Ninguém duvide que em breve a paternidade do projeto será tema de disputa política.