DINASTIA David Rockefeller na sala em que exibia a tela de Picasso arrematada por US$ 115 milhões. No detalhe, o avô John: fortuna colossal (Crédito:Divulgação)

Fundador da Standard Oil Company, o magnata John Davison Rockefeller (1839-1937) entrou para a história não apenas por ter sido o homem mais rico de sua era. Capaz de construir do nada uma fortuna que hoje equivaleria a US$ 330 bilhões de dólares, ele também esteve na gênese da filantropia moderna ao criar fundações dedicadas a contribuir para o avanço da medicina, da educação e da ciência. Passados 80 anos da morte de Rockefeller, a imensa fortuna que ele deixou segue irrigando causas humanitárias. Na semana passada foi leiloada uma coleção de 1,6 mil peças que representam apenas uma parcela do que os Rockefeller acumularam em obras de arte, joias e itens decorativos. Boa parte das pinturas já havia sido doada para o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York.

A renda arrecadada no leilão, cerca de US$ 1 bilhão, será doada para instituições filantrópicas. Entre os beneficiários estão as universidades Rockefeller e Harvard, o MoMa e o Conselho de Relações Exteriores dos EUA.

A coleção de arte agora leiloada esteve entre as mais extraordinárias do planeta. Foi montada ao longo de décadas por David, neto mais jovem de John D. Rockefeller, e pela mulher dele, Peggy, que morreu em 1996. David viveu 101 anos, até março de 2017. Em vida, doou US $ 1 bilhão para instituições de caridade e afins. Em 1970, foi ele quem salvou a prefeitura de Nova York da bancarrota. Nem mesmo essa generosidade o impediu de viver com incomparável nível de refinamento. David e Peggy se dedicaram a reunir obras-primas da pintura europeia e americanas (sobretudo dos séculos 19 e 20), mobiliário inglês, porcelana asiática, cerâmica pré-colombiana, arte decorativa e tudo mais a que só os bilionários podem se dar ao luxo de colecionar. Entre os destaques da coleção estavam as telas “Menina com Cesta de Flores”, de Picasso, arrematada em poucos minutos na noite de terça-feira 8 por US$ 115 milhões, e “Ninfeias em Flor”, de Monet, que não ficou muito atrás: foi adquirida por US$ 84,6 milhões.

PORCELANA Além das obras de arte, a coleção continha itens decorativos, mobiliário e joias: décadas de aquisições (Crédito:Divulgação)

Programado para durar três dias, o leilão estabeleceu um novo recorde histórico já na primeira rodada de lances, que somaram US$ 646 milhões Até então, a maior cifra do gênero pertencia à coleção do estilista Yves Saint Laureant, leiloada por US$ 484 milhões em 2009. Individualmente, a obra de arte mais cara já arrematada é “Salvator Mundi”, retrato de Jesus Cristo pintado por Leonardo da Vinci em 1490. Um colecionador anônimo pagou US$ 450 milhões em novembro passado na mesma Christie’s de Nova York. Coincidência ou não, a sede nova-iorquina da casa de leilões fica no Rockefeller Center, o suntuoso edifício de propriedade da família.

DOU-LHES TRÊS Painel mostra o lance de US$ 75 milhões por tela de Monet: martelo foi batido em US$ 84,6 milhões (Crédito:Julie Jacobson)

Destinar a renda da coleção para instituições filantrópicas foi um desejo expresso por David. Ele e Peggy tiveram cinco filhos, dez netos e dez bisnetos — todos tão suficientemente providos de recursos que nem cogitaram uma destinação menos honrosa para um acervo que dificilmente será superado.

MESTRES Mesmo depois de a família ter doado parte das obras para o MoMa de Nova York, a coleção de Peggy e Davio ainda exibia telas de Miró (abaixo) e Auguste Renoir: acervo magistral (Crédito:Divulgação)