O perito papiloscopista da Polícia Civil Renato Couto de Mendonça, de 41 anos, foi sequestrado e baleado na sexta-feira (13) por ao menos três militares da Marinha. Depois, ele foi jogado no Rio Guandu, na altura de Japeri, Baixada Fluminense (RJ). Profissionais do Instituto Médico Legal (IML) concluíram que o agente estava vivo no momento em que foi arremessado. As informações são do O Globo.
Ainda de acordo com o exame de autópsia, Renato Couto morreu por hemorragia causada pelos disparos e asfixia mecânica decorrente do afogamento.
O corpo estava preso à vegetação do rio e foi localizado nesta segunda-feira (16) pelo Corpo de Bombeiros.
Conforme as investigações da 18ª Delegacia de Polícia (Praça da Bandeira), o perito teria tido uma discussão com Lourival Ferreira de Lima, que é dono de um ferro-velho na região, depois de perceber que materiais da obra da sua casa haviam sido furtados por usuários de drogas e vendidos ao estabelecimento.
Em seu depoimento, o primeiro-sargento da Marinha Bruno Santos de Lima afirmou que recebeu uma ligação de seu pai, Lourival, na quarta-feira (11) em que foi informado que um homem havia procurado o ferro-velho e exigido dinheiro pelo material supostamente furtado.
Na sexta-feira, Bruno recebeu outra ligação de Lourival na qual afirmava que o homem tinha retornado, ameaçado e ordenado uma transferência de R$ 10 mil. Então, ele acionou dois subordinados, o terceiro sargento Manoel Vitor Silva Soares e o cabo Daris Fidelis Motta, para irem até o ferro-velho.
Quando chegou ao local, segundo ele, o seu pai estava cabisbaixo ao lado de Renato. Na sequência, Bruno se identificou como militar e revistou o perito. Nesse momento, percebeu que o agente estava com uma arma na cintura.
Renato teria sacado a pistola e, nesse momento, Bruno entrou em luta corporal com ele.
Os outros dois militares e o seu pai teriam tentado apartar a briga. Bruno afirmou que só se recorda de ter “conseguido desferir um tiro em uma das pernas” de Renato.
O primeiro-sargento ressaltou que, durante a confusão, Renato gritou: “Polícia! Polícia!”. Mas não conseguiu entender se ele estava se identificando ou pedindo por ajuda. Por esse motivo, Bruno efetuou mais um disparo, que atingiu a barriga do perito.
Ele afirmou que colocou Renato na viatura do 1° Distrito Naval com a ajuda de Daris.
Ainda segundo o seu depoimento, Bruno contou que não se recorda se ele e os demais militares cogitaram de levar Renato para um hospital.
Ele apenas se lembra de ter “avistado um grande rio”, o Guandu, e sugeriu que o perito fosse jogado por cima da mureta do viaduto. O primeiro-sargento disse que não sabia se Renato apresentava sinais vitais.
Ao ser questionado sobre a pistola de Renato, ele afirmou que a jogou no rio.
Depois, os militares voltaram para a base do 1° Distrito Naval, na Praça Mauá, e cumpriram os seus serviços.
Bruno Santos de Lima, Manoel Vitor da Silva Soares, Daris Fidelis Motta e Lourival Ferreira de Lima foram presos em flagrante pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
A fisioterapeuta Débora Couto de Mendonça, irmã de Renato, afirmou que espera que a Justiça seja feita.
“Nada justifica o que fizeram. Meu irmão já tinha ido lá várias vezes. Eles armaram para matá-lo. Ele foi morto com a nota fiscal no bolso. O meu irmão só procurou o que era dele, só foi rever o que estava lá. Meu irmão foi agredido. Eles eram um ferro-velho ilegal. A última vez que estive com o meu irmão foi no dia das mães e disse que estava cheio de dívidas por conta daquilo. Só quem é trabalhador sabe como está tudo caro. E meu irmão montou a loja para ter uma segunda renda e fazer a casa para a minha mãe.”
O que diz a Marinha
A Marinha do Brasil lamentou, por meio de nota, a morte de Renato e ressaltou que repudia o comportamento dos militares envolvidos.
A corporação afirmou que abriu um inquérito policial militar para investigar o caso e está colaborando com as autoridades policiais.