O relatório da Polícia Federal sobre as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes cita um documento no qual afirma que criminosos pagavam “mesada” de cerca de R$ 300 mil para evitar apurações de casos envolvendo um bicheiro na delegacia comandada por Rivaldo Barbosa, preso sob suspeita de envolvimento nos assassinatos.

No documento, ao qual a ISTOÉ teve acesso, o miliciano Orlando Curicica revelou que o pagamento mensal variava entre R$ 60 a R$ 80 mil e remessas adicionais deveriam ser pagas nos casos dos crimes deixarem provas e rastros.

O miliciano ainda destacou que a DHC (Delegacia de Homicídios da Capital), que era comandada por Rivaldo Barbosa, teria recebido de uma pessoa ligada ao bicheiro Rogério Andrade cerca de R$ 300 mil para não “perturbar” os prováveis envolvidos na execução de Geraldo Antônio Pereira, morto em um tiroteio em uma academia de ginástica no Recreio dos Bandeirantes (RJ).

Conivência

O relatório da PF destaca que toda essa dinâmica “não seria possível se o principal órgão responsável por reprimir a ação desses grupos não fosse conivente com o esquema”.

Ainda conforme o documento, o grupo era responsável por garantir a impunidade, pois havia “diversas denúncias que dão conta da existência de um acordo entre a Delegacia de Homicídios da Capital a contravenção, para encobrir a verdadeira autoria e motivação dos crimes de homicídios vinculados à contravenção”. Ou seja, a “polícia garante a impunidade e a continuidade da dinâmica criminosa”.
Durante depoimento ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) o atual secretário de Ordem Pública da capital fluminense, Brenno Carnevalle, contou que havia indícios da existência de um esquema de corrupção no cerne da DHC.

Aos promotores do MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), Brenno Carnevalle disse que entre agosto de 2016 e março de 2018 não houve a elucidação de nenhum dos crimes envolvendo bicheiros.