Com sua participação no “BBB24”, Isabelle Nogueira levou o Festival de Parintins, tradicional da região norte do Brasil, ao resto do país. Nas redes sociais, é comum ler comentários de brasileiros que dizem ter conhecido o festejo somente após a exposição nacional da manauara. 

Em Parintins, Isabelle dá vida à cunhã-poranga, item 9 do Boi Garantido, o vermelho. E apesar de, atualmente, ser a mais famosa, ela não é a única cunhã do Festival. Marciele Albuquerque, sua “rival”, representa o item pelo Boi Caprichoso, o azul.

Apesar da rivalidade criada nas redes sociais e na arena, Marciele, que tem 30 anos e representa o item há sete, garante que tudo não passa de uma forma de diversão das torcidas.

“A gente nunca teve nenhum problema pessoal. Como a rivalidade dos Bois é muito grande, e dos itens individuais mais ainda, sempre tem essa parte instigante dos torcedores. Mas a gente nunca discutiu, inclusive trabalhamos juntas. A gente viaja, tem shows, apresentações, publicidade, então sempre teve uma parte muito respeitosa”, conta, em entrevista à IstoÉ Gente

E revela que está torcendo para a “contrária”, como é denominada uma pessoa do Boi rival, no reality. “Isabelle tem representado com maestria, ela fez o que ninguém do Norte que entrou [no BBB] fez. O Brasil precisava conhecer, e ela foi lá e mostrou para todo mundo. A gente está apoiando ela, toda vez que ela vai para o Paredão o Boi posta. Mexeu com a gente, mexeu com as duas nações, não tem jeito.”

Post feito no perfil do Boi Caprichoso em apoio a Isabelle
Post feito no perfil do Boi Caprichoso em apoio a Isabelle (Crédito:Reprodução/Instagram)

Como funciona o Festival de Parintins?

O Festival acontece em Parintins, no interior do estado do Amazonas, a 369 km de Manaus. Começando sempre na última sexta-feira de junho e durando até o domingo, disputam os Bois Caprichoso — azul com estrela na testa — e Garantido — vermelho com coração na testa. A ordem das apresentações é definida por sorteio e cada Boi tem 2h30min para se apresentar.

“É o maior teatro a céu aberto feito por pessoas da cidade do mundo. Pessoas que nasceram ali. Parintins é o berço da arte, porque as pessoas de lá vão para outros estados, para outras cidades, e elas levam o que elas nasceram sabendo. Ninguém ensinou, as pessoas nasceram sabendo”, explica Marciele, emocionada.

Conforme exposto por ela, a cunhã-poranga é um “item individual” do Festival. Mas ela não é a única: Apresentador, Levantador de Toadas, Porta-estandarte, Amo do Boi, Sinházinha, Rainha do Folclore e Pajé são os outros itens compostos por uma só pessoa em cada Boi.

Além deles, os itens avaliados pelos jurados são: marujada e batucada, ritual indígena, Boi Bumbá (evolução), toadas (músicas), povos indígenas, tuxauas (líder da tribo representado por uma alegoria), figura típica regional, alegorias, lenda amazônica, vaqueirada, galera (público das arquibancadas), coreografia e organização do conjunto folclórico.

Mas os itens representam apenas uma parcela da grandiosidade do evento. “O festival é desde a costureira até o soldador, o dançarino, a pessoa que vai de folha na alegoria, o pessoal que vai de um animal na arena, que compõe cenário, que empurra o carrinho da alegoria. É um conjunto que acontece de um jeito harmônico, e eu tenho certeza que é o único no mundo”, continua a cunhã.

Ela ainda destaca a importância do respeito da audiência ao Boi contrário: “Enquanto um se apresenta, uma galera toda, uma nação inteira está em silêncio. Não pode se manifestar, porque perde ponto. A nossa galera está sendo instigada a gritar, aplaudir, ou então vaiar, mas todo mundo fica em completo silêncio e escuro, só assistindo. Eu acho isso uma das coisas mais mágicas.”

Quem é a cunhã-poranga?

Marciele Albuquerque (à direita) e Isabelle Nogueira (à esquerda)
Marciele Albuquerque (à direita) e Isabelle Nogueira (à esquerda)

No manual do festival, o item 9 representa uma moça bonita, guerreira e guardiã, que expressa a força através da beleza. Seus méritos são beleza, simpatia, desenvoltura e incorporações às suas apresentações. Além disso, também é avaliada a indumentária, vestimenta utilizada pelas cunhãs.

Burocracias à parte, Marciele explica, de verdade, a responsabilidade de ser a cunhã. “É um item que sempre teve muita notoriedade. Sempre foi um item muito sonhado pelas crianças, pelas adolescentes, meninas que dançam. Quando se trata de importância, de relevância, a cunhã-poranga sempre está à frente. Isso, muito antes de mim e da Isabelle. A cunhã-poranga é quem comanda a aldeia”, conta.

Por último, Marciele ainda faz questão de reiterar a importância do respeito ao indivíduo que está por trás do item.

“A gente acaba passando por várias situações de preconceito com o que a gente faz, como a gente dança, com indumentária. Um dos motivos pelos quais eu fiquei muito por a Isabelle estar lá, é que as pessoas viram que é uma coisa séria, não é só uma paixãozinha. É um trabalho, uma coisa que a gente ama fazer”, finaliza.