A mulher mais alto-astral do Brasil me deixa triste: Rita Lee está com câncer. A mulher mais alegre do Brasil me deixa triste: Rita Lee está com câncer primário no pulmão esquerdo. A mulher mais corajosa do Brasil na área musical me deixa triste: a culpa, claro, não é dela em hipótese alguma, a culpa é do tumor. Rita Lee, que convidou todos nós para um “baila comigo”, em breve me deixará contente: Rita Lee vai se curar.

   Ninguém nesse País consegue, como ela o faz com a maior naturalidade — porque essa é Rita –, cantar a liberação sexual com tanta delicadeza: suas músicas, em nada caretas, são cantadas por quem é adolescente, jovem, está na chamada idade matura ou está velho. Essa é a força da mulher Rita Lee. Também ela, e também ninguém como ela, canta a defesa do meio ambiente. Também ela, e ninguém como ela, traz na música o respeito que a mulher merece e a crítica eficaz ao machismo (porque irônica). Também ela, e ninguém como ela, traz a necessidade de se olhar para o abandono sofrido pelos indígenas. A “louca” Rita Lee é uma das mulheres mais lúcidas do Brasil.

   Quando foi presa pela ditadura militar, somente uma artista foi visitá-la na prisão: Elis Regina, mulher igualmente forte nas opiniões, na ética, no caráter, na prática cotidiana da justiça e na sinceridade de expor suas ideias. Foi nessa visita que Elis ficou sabendo — e esse é um maravilhoso detalhe histórico — que Rita Lee estava grávida. Rita fez com que Elis saísse contente da prisão. Essa é a Rita que vai nos deixar novamente contentes: ela e nós vamos sair desse tumor; e bailar.