Pé no chão, mas de olho no futuro. É esse o lema da Rio2C, que retorna ao calendário de eventos do País após dois anos de pausa. Com uma programação robusta e reestruturada, o evento carioca passa a olhar para os novos comportamentos que surgiram durante esse hiato causado pela pandemia de covid-19. Agora, nada do consumo rápido de conteúdo. Após o vendaval da pandemia, calma e reflexão determinam os rumos do mercado.

Assim, entre 26 de abril e 1º de maio, na Cidade das Artes, os dez palcos da Rio2C vão trazer conteúdos de várias áreas que, em uma linha narrativa dividida em diversos olhares, falam sobre esse novo comportamento. Outra aposta está na decisão de fazer o evento totalmente presencial, sem hibridismos, colocando o evento carioca novamente como um espaço importante de trocas, conversas e experiências pessoais.

“A gente traz essa provocação do consumo consciente de conteúdo. É o que a gente chama de ‘slow content'”, diz o diretor do Rio2C, Rafael Lazarini, em entrevista ao Estadão, fazendo um paralelo com o movimento italiano “slow food”, que questionou a comida de fast-food. “É uma reflexão sobre a forma. Estamos em um momento propício para falar sobre esse alimento para a mente, espírito, cérebro. Muito do que estamos vivendo com esse antagonismo, essa radicalização, vem desse consumo sem reflexão e cuidado.”

Esse olhar de Rafael, que é transferido para a Rio2C, vai ao encontro dos recentes acontecimentos no mercado audiovisual, indicando que aquele conteúdo de consumo rápido, até mesmo relacionado com restaurantes de fast-food, pode ter ficado para trás. A Netflix, por exemplo, anunciou a perda de assinantes no primeiro trimestre de 2022 e, em uma espécie de reestruturação, terá menos conteúdo em busca de mais qualidade.

Na indústria fonográfica, também houve mudanças: no mercado americano, mais de 75% da música consumida é de catálogo, não novidade, segundo a MRC Data. Isso cresceu mais de 10% ao longo da pandemia. “São sinais que trazem indicativos interessantes do que está por vir”, afirma Rafael. “A gente nunca produziu tanta música, mas as pessoas continuam consumindo catálogo. Será que as músicas estão sendo feitas de forma tão rápida que nem chegam a entrar em catálogo? Será que a qualidade do conteúdo mudou?”

ALOK

No Global Stage, palco que busca ser heterogêneo e com vários temas, um dos destaques é o painel Antes do Brasil da Coroa, Existe o Brasil do Cocar. Nele, o DJ e produtor musical brasileiro Alok, que soma mais de 26 milhões de seguidores no Instagram e quatro bilhões de streams no Spotify, se senta com a líder indígena Célia Xakriabá para discutir a urgência de compreensão do passado, das tradições e da sabedoria dos povos originários.

O futuro das indústrias criativas, sob o olhar da propriedade intelectual, será assunto da mesa Futuro do Entretenimento. A francesa Sylvie Forbin, vice-diretora-geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi), falará sobre os impactos da covid-19 nas indústrias criativas e, depois, vai juntar-se a Bertrand Chaverot, diretor da empresa de jogos Ubisoft, e Marcelo Castello Branco, CEO da União Brasileira dos Compositores (UBC), para uma conversa sobre as mudanças e tendências para artistas, criadores e empresa.

Além disso, no mesmo palco, o americano Scott Steindorff vai expor sua experiência como produtor especialista na adaptação de livros best-sellers para cinema e TV, compartilhando a própria vivência na produção de conteúdo a partir da canalização de emoções para a arte. Por fim, o Global Stage receberá Beto Skubs, no time de roteiristas da série Grey’s Anatomy desde 2021, e a americana Kiley Donovan, que, além do roteiro, assina a produção executiva do programa, para falar sobre a produção de um episódio. “É nosso palco mais agnóstico, não tem uma temática específica”, resume Rafael.

Nos outros nove palcos que compõem a Rio2C, Rafael Lazarini e sua equipe buscaram participantes que conversassem com o restante do evento. No StoryVillage, por exemplo, há uma busca por reverenciar a arte de criação. Larry Mestel, um dos destaques, é fundador e CEO da Primary Wave, a maior editora independente da indústria musical e que está à frente de catálogos de artistas como Whitney Houston, Bob Marley, Prince e Aerosmith.

O evento ainda conta com os palcos Brainspace, que aborda ciência; House of Brands, de marcas e marketing; Screening Room, que tem o audiovisual como tópico (leia mais nesta página); New Frontier, de novas tecnologias; Cyberstage, sobre novos “universos paralelos”, como metaverso e realidade virtual; Soundbeats, o show business da música; Future U, de tendências do mercado de trabalho; Biodom, das tendências e desafios urgentes de fatores sociais e ambientais; e o Summit Game+, que apresenta tendências do mundo dos games.

Questionado sobre o que destacaria na programação, Lazarini vai direto ao ponto, ressoando a ideia geral do evento: as conversas. “Ficou muito marcado para mim, em outra edição, uma conversa do Zeca Camargo com a Elza Soares. A gente quis trazer de novo essas conversas, esses bate-papos”, conclui o organizador. “Teremos uma conversa do Criolo com o Mano Brown refletindo sobre a cultura do rap, por exemplo, e falando sobre tudo ao redor desse tema.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.