Em duas décadas, o Rio de Janeiro conseguiu superar a si próprio (o que parecia inimaginável) em termos de bandidagem. Em 1999 existia em seu território apenas uma milícia – a de Rio das Pedras, no bairro de Jacarepaguá. Na semana passada, foi constatado pelas autoridades que pelo menos catorze cidades do estado estão totalmente dominadas por milicianos e, somente na capital, cerca de trinta bairros também vivem nas mãos dessa gente. Ao todo, estima-se que dois milhões e quinhentas mil pessoas estejam sob o domínio desses marginais. Quando as primeiras milícias surgiram, a parte mais desesperada e ingênua da população, lesada por um assalto atrás do outro e vendo-se completamente desamparada diante da omissão do Estado, chegou a achar que finalmente se livraria do jugo dos traficantes de drogas, uma vez que a autoproclamada razão de ser dos milicianos (dentre eles, ex-policiais e comerciantes) era a de matar bandido. Claro que isso também é crime. E é claro que não deu outra. O Estado, que de fato é constitucional e legitimamente dono do monopólio da violência na luta contra os estados paralelos, seguiu ausente. Hoje, as milícias se tornaram extorsionárias da gente trabalhadora das comunidades pobres, dominam o mercado de gás chegando a vender um bujão a R$ 200 e exploram o transporte público de vans. Mais: estão se associando a traficantes. O Rio de Janeiro, que era escravizado por um estado paralelo, agora é massacrado por dois. Dói dizer, mas Rio de Janeiro, você perdeu.

Prenda-se essa gente

Danilo Verpa/Folhapress

Sobe o número de PMs expulsos da corporação no Rio de Janeiro. Bandidos, eles migram para as milícias e se tornam matadores de aluguel. Isso não quer dizer que a Polícia Militar não deva limpar seus quadros. O que precisa é a Justiça prender esses indivíduos. A PM se deteriora de um lado e, na outra ponta, aumentam os milicianos. Entre janeiro de 2012 e dezembro de 2018 expulsou-se um PM a cada 48 horas. Cotejando 2018 com 2017, o expurgo explodiu 164%. Essa gente não pode ficar na rua.

NEGÓCIOS
Empregos salvos

PRODUÇÃO Linha de montagem: era Ford, agora é Caoa (Crédito:Rodrigo Paiva/Folhapress)

Quatro mil e quinhentos trabalhadores respiraram aliviados na semana passada porque não mais perderão os seus empregos. Eles são operários da unidade da Ford na cidade paulista de São Bernardo do Campo e a montadora americana está encerrando as suas atividades nessa divisão — nela são fabricados caminhões e o carro Fiesta. O governador de São Paulo, João Doria, assumiu o compromisso de intermediar um comprador para a Ford justamente para salvar os empregos. A Caoa fechou acordo e seguirá produzindo caminhões. Até a quarta-feira 3 o valor da transação não fora oficialmente divulgado. A decisão da Ford, aqui no Brasil, segue a atual política financeira da matriz, nos EUA, visando cortar gastos para obter maiores lucros globais nos próximos anos.

BRASIL
Um País sem saneamento

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Marcio Fernandes

O Plano Nacional de Saneamento Básico estipula que a União invista anualmente mais de R$ 20 bilhões nessa área para que todo o País passe a ter uma rede de cobertura até 2033. No atual andar das coisas, a meta virou miragem. Estão sendo colocados não mais que R$ 10 bilhões por ano. Estudos da Confederação Nacional da Indústria apontam que na toada de hoje o
objetivo será cumprido por volta de 2060.

100 milhões de brasileiros
(quase a metade da população do País) não possuem acesso à coleta de esgoto; 35 milhões de pessoas não recebem água encanada

REDES SOCIAS
Miséria da filosofia

Divulgação

O filósofo de internet, Olavo de Carvalho, é moralista e conservador nos costumes. E se diz bastante culto. Deveria então cultuar uma linguagem que não fosse chula. Mas age justamente de forma contrária. Desde a campanha política de seu candidato, Jair Bolsonaro, até a semana passada ele escreveu 107 palavrões nas redes sociais. Olavo de Carvalho detesta Karl Marx. É um direito dele. Mas para toda essa baixaria que coloca nos tuítes, bem que caberia o título de um dos clássicos livros do marxismo: “Miséria da filosofia”. Além de palavras de péssimo nível, vale lembrar que foi ele quem inflou a notícia completamente falsa de que os oponentes de Jair Bolsonaro defendiam o “kit gay”.

DROGAS
Quatro cabeças pensando. E a falha na lei continua

HighGradeRoots

Sergio Moro, Damares Alves, Luiz Henrique Mandetta e Osmar Terra discutem o novo projeto do governo federal sobre a Política Nacional de Drogas. Tudo leva a crer que da reunião dos quatro ministros não sairá a definição pedida há tanto tempo por juízes e policiais: concretamente, quanto é a pequena quantidade de droga apreendida que fará do portador traficante ou usuário? A pedido do STF, a Associação Brasileira de Jurimetria estudou a questão. Mostra que cada região do País tem um entendimento. Acaba prevalecendo a escolaridade: os menos escolarizados são enquadrados como traficantes, os mais estudados, como dependentes. Jair Bolsonaro não quer fixar uma quantidade objetiva.

 

 


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