Declarações das brasileiras Martine Grael e Kahena Kunze, que nesta quinta-feira conquistaram a medalha de ouro dos Jogos Rio-2016 na classe 49er FX, e de Torben Grael, tio de Martine e ex-campeão olímpico:

Martine Grael:

“Foi muito difícil, a gente chegou muitas vezes nessa situação de última regata decisiva, acho que até deu uma acalmada na gente. Chegamos tantas vezes que acho que essa vai ser só mais uma. Na verdade a gente só realizou que deu mesmo quando cruzou a linha, porque a gente está na regata, está no jogo, tudo pode acontecer”.

“Quando a gente conseguiu cruzar da esquerda no segundo contravento, que a gente foi junto com as dinamarquesas para a esquerda, e a outra metade foi lá para a direita da raia, quando a gente conseguiu cruzar a gente ainda montou (a boia) atrás, mas quando a gente conseguiu cruzar ali eu pensei: ‘Que bom’, era um momento muito decisivo. E depois no segundo contravento a gente foi para a esquerda com pressão, sabia que a gente ia voltar com pressão, e eu fiquei muito feliz já voltando perto das neozelandesas. Quando a gente conseguiu cruzar na frente falei ‘Caraca, é essa a oportunidade’ e ai deu até um nervoso na última manobra, achei que fosse errar alguma coisa, mas acabou que deu tudo certo”.

(Sobre a comemoração)

“Não esperava uma comemoração tão grande, eu amei, todos os meus amigos estavam aqui, representaram a gente na torcida. Na regata eu não pensei em nada, só escutei quando cruzei a linha de chegada. Olhei em volta, e disse ‘Caraca, irado'”.

(Sobre a pressão porque o Brasil não havia conquistado medalha na vela)

“Acho que isso não importa, a equipe brasileira velejou muito bem. Mesmo sem outras medalhas o Robert (Scheidt) mandou muito bem, a Fernanda, o Jorginho (Zariff), todo mundo mandou muito bem”.

(Comparação com o pai, Torben Grael)

“Não dá para comparar. Meu sonho é ser a melhor velejadora em todas as condições e espero continuar sendo. Na vela conta muito a experiência e ele tem muita experiência para compartilhar, com certeza. Ele não é uma pessoa que fala muito, a gente que tem que buscar essas informações, mas acho que essas informações eu busquei muito com ele e com outros atletas da vela e de outras modalidades. Acho que experiência você tem que buscar”.

(Sobre estratégia de ir pela esquerda depois a quarta boia)

“Foi a decisão mais difícil de tomar, mas a gente já estava indo para a esquerda e a gente pensou que tentar fazer outra coisa também seria muito arriscado. A gente vai olhando para todas as pessoas que estão competindo, como o vento está vindo na frente, acho que isso é o mais importante e a gente vai conversando o tempo todo sobre o que está acontecendo. A Kahena me ajuda muito nessa hora, ela dá a opinião dela e é muito importante para mim na hora de tomar a decisão”.

Kahena Kunze:

“Sempre antes da regata a gente conversa sobre como está a raia, a gente nunca fala ‘vamos fazer isso’, porque o vento muda constantemente. Eu tento fazer o barco andar mais rápido e a Martine sempre olhando para fora. Tem que ter uma comunicação muito boa. Acho que a gente conseguiu administrar isso muito bem. A gente teve um pouco de ‘vamos abandonar as duas (neozelandesas e dinamarquesas) e tentar fazer o nosso aqui’ e no final foi super bom, porque a gente esperou o nosso ‘feeling’ falar: ‘a hora é agora’ e acho que isso só com muitos anos de prática. Você sente que a hora é agora e vai para aquele lado”.

“Essas Olimpíadas eu dei o meu melhor e prometi a mim mesma que eu queria chegar na rampa destruída falando ‘eu dei o meu melhor’, acho que isso é o que vale mais. Independente do resultado, eu queria falar ‘eu não teria feito nada de diferente’, Martine também. Ela é uma excelente velejadora, toma as decisões na hora certa e eu estou ali para ajudar na hora das decisões de querer ficar ou não. Acho que a gente forma uma bela dupla”.

(Sobre poluição)

“Estou bem satisfeita, espero que continue assim. Queria muito que os Jogos deixassem como legado uma baia limpa, o que não foi feito, mas a gente não teve problema, espero na nossa próxima campanha, se a gente velejar, ter uma baia descente para a gente continuar nossos treinos sem ter problema com lixo”.

(Sobre o relacionamento com Martine)

“Ao longo desses quatro anos a gente aprendeu a ouvir uma a outra, aprendeu a levar nada para fora da água. Tudo que aconteceu na água a gente discute depois e acho que foi essencial esse apoio nesses quatro anos para chegar hoje sem nenhum obstáculo de comunicação. Com certeza foi nosso melhor campeonato”.

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