A 8ª edição do Lollapalooza Brasil teve de tudo, tanto dentro quanto fora dos palcos. Musicalmente, foi uma das edições mais ecléticas do festival, contando com estilos diversos, do rap ao rock, do jazz ao funk, do blues à música eletrônica. Um dos principais destaques do terceiro e último dia, o Greta Van Fleet veio como o elo que junta os filhos e os pais – e, de fato, era possível ver pessoas de diferentes idades curtindo o som da banda. Um desses raros fenômenos que ouvimos sem saber se gostamos tanto do que vemos ou do que aquilo nos faz lembrar. Eles, os irmãos Kiszka (Josh no vocal, Jake na guitarra e Sam no baixo, além do baterista Danny Wagner), crescem nas memórias de Led Zeppelin e Rush, e é exatamente uma mistura dessas duas bandas que soará seu show.

Josh e Jake são irmãos gêmeos e parecem se entender como tal. Josh tem uma presença de palco impressionante e é, a cada música que canta, mais evidente de que nasceu quatro décadas depois de sua época. Sua estatura diminuta, seus cabelos crespos rebeldes e sua cara de mau no palco são características que, aliadas à voz cortante e rasgada, lembram bastante outro astro das antigas, Dio. Os rapazes da pequena cidadezinha de Frankenmuth, no Estado americano do Michigan, todos entre 19 e 22 anos, mostraram que sabem conduzir um show como gente grande. As vocalizações de Josh, os solos virtuosos de Jake e os solos da bateria (algo raríssimo nos últimos anos, até mesmo para bandas da velha guarda) de Danny deram o tom de uma apresentação firme, que coloca o Greta Van Fleet no panteão do rock contemporâneo.

Outra banda com forte influência dos clássicos foi o Struts. O grupo britânico formado por Luke Spiller, Adam Slack, Jed Elliott e Gethin Davies mescla referências setentistas e oitentistas ao que há de mais novo na cena. Com figurinos excêntricos, próprios do glam rock, e repleto de riffs grudentos e refrões fortes, mostrou a bem-vinda influência do rock de arena.

Ainda no campo roqueiro, a banda americana Interpol repetiu o show cinzento que mostrou em 2015, com apenas 2 faixas de Marauder, o disco que fez os críticos torceram a língua em 2018 ao terem que admitir que a banda não havia chegado num platô criativo, mas sim aprendido a buscar novos caminhos.

A apresentação foi uma demonstração de como as bandas de um período de ouro do indie de Nova York, o meio da década de 2000, alcançam 2019: para fãs dedicados, uma revisão consistente dos sucessos da carreira; para os mais desavisados, a postura blasé da geração pode ser um obstáculo. O Interpol, porém, consegue manter uma postura no palco muito mais altiva do que o Kings of Leon, headliner indesculpável do dia anterior.

Com Kendrick Lamar como headliner principal do último dia, não há como dizer que o Lollapalooza 2019 não foi um festival que prestigiou bastante o rap – e não apenas o estrangeiro. O festival teve que esperar até o domingo para ver um show de rap nacional em um de seus palcos: o carioca BK fez no espaço principal uma versão do seu show de Gigantes, um dos discos mais destacados da música brasileira em 2018 – e não foi interrompido pela chuva, como Rashid havia sido no dia anterior.

A última faixa do show, Top Boy, de 2017, vê surgir uma roda na plateia e o coro repetido com vontade por um público que veio ao autódromo por causa de nada mais do que rap.

O palco Doritos, dedicado à música eletrônica e único em atividade o dia todo, praticamente sem intervalos, foi um verdadeiro fenômeno. Desde a abertura dos portões, durante os três dias do Lollapalooza 2019, a atração permaneceu cheia do início ao fim do evento. Embora fosse o palco com os nomes menos badalados pela imprensa, contou com alguns astros, como Steve Aoki, que tocou no segundo dia, e Dimitri Vegas, que se apresentou no último dia. Chama atenção o público bastante jovem. Alguns passos para trás da multidão, foi possível até ver pais e mães acompanhando seus filhos.