Na última quinta-feira (9), a Polícia Civil de São Paulo realizou uma operação em alguns endereços ligados à empresa de ônibus Transunião. Os agentes encontraram nesses locais uma rifa criada por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e um “salve”, como é conhecido o recado enviado pela cúpula da facção criminosa. As informações são da Folha de S.Paulo.

A rifa foi encontrada em uma das garagens da Transunião. O valor era baixo, entre R$ 8 e R$ 10, e serviria para comprar 2.000 cestas básicas.

O promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), explicou que a facção criminosa criou a rifa nos anos 2000 e ela servia para reforçar as chamadas “cebolas”, que são as mensalidades que os integrantes pagavam.

“Devido ao aumento da arrecadação com o tráfico, eles aboliram as rifas e a cebola, que não existem mais aqui em São Paulo. Eram 40 mil números a R$ 20 ou R$ 30, que sorteavam a cada dois meses”, relatou.

Para o diretor do Departamento Especializado de Combate ao Crime Organizado (Deic), Fábio Pinheiro Lopes, “aquilo não era lugar para ter rifa do partido (PCC), não é mesmo? Para você ver como eles (criminosos do PCC) estão enfiados em todos os lugares (da empresa de ônibus)”.

Já o “salve” foi encontrado pela polícia na residência de um dos investigados de envolvimento do crime organizado com o transporte público da capital paulista. Contudo, a identidade do suspeito e o conteúdo do recado não foram divulgados.

Início das investigações

A polícia começou a investigar o possível elo entre o PCC e a Transunião depois que o ex-presidente da empresa Adauto Soares Jorge foi assassinado, em março de 2020.

Há suspeita também de que o vereador de São Paulo Senival Moura (PT) esteja envolvido nesse homicídio. A polícia solicitou a sua prisão, mas ela foi negada pela Justiça.

Segundo informações levantadas pelo Deic, Adauto teria sido morto porque parou de repassar valores a membros do PCC, “motivo pelo qual foi desligado da empresa e teve o ‘salve’ decretado pela organização criminosa”.

Devanil Souza Nascimento, conhecido como Sapo, que era motorista do vereador Senival Moura, teria levado o ex-presidente da empresa para o local onde foi assassinado.

Diante de todas essas suspeitas, representantes da cúpula da Prefeitura de São Paulo se reuniram com agentes do Deic. Uma das soluções apresentadas seria que a Justiça deveria nomear um interventor para administrar a Transunião, já que, segundo os policiais, o PCC domina entre 30% e 40% da frota.

O que dizem os envolvidos?

A Folha não conseguiu, até o momento, contato com a empresa Transunião.

O vereador Senival Moura afirmou, por meio de nota da sua assessoria de imprensa, que Devanil não atuou como seu motorista. Ele era apenas um funcionário da empresa de ônibus e um “amigo em comum do vereador e do Adauto”.

“Devanil ligou sim para o vereador Senival Moura para informar sobre o lamentável ocorrido com o Adauto. Detalhe: No local que ocorreu o crime, era de um estacionamento de padaria onde o vereador Senival, Devanil e Adauto sempre tomavam café e eventualmente almoçavam”, finalizou o comunicado.