27/03/2024 - 6:27
O escultor americano Richard Serra, um dos principais nomes da arte contemporânea com suas obras monumentais criadas com placas de aço, morreu na terça-feira (26) aos 85 anos.
Serra faleceu vítima de pneumonia na terça-feira em sua casa de Long Island, estado de Nova York, informou seu advogado, John Silberman, ao jornal The New York Times.
Suas peças surpreendentemente grandes estão em exposição em todo o mundo, dos mais importantes museus de Paris ao deserto do Catar. Em alguns momentos, as obras enormes e arredondadas, de aspecto minimalista, provocaram polêmica por sua natureza imponente.
Nascido na cidade de San Francisco em 2 de novembro de 1939, com mãe de origem judia russa e pai espanhol, Serra estudou Literatura Inglesa na Universidade da Califórnia, antes de ser admitido em Yale para estudar Artes Plásticas.
Graças a uma bolsa de estudos, ele se mudou para Paris, onde passava quase diariamente pelo local de trabalho do escultor romeno Constantin Brancusi no Museu Nacional de Arte Moderna. O então aspirante a pintor decidiu dedicar-se à escultura.
No final dos anos 1960 se mudou para uma Nova York em plena efervescência artística. Para sobreviver, ele criou uma empresa de limpeza de móveis na qual empregou o compositor Philip Glass como assistente.
Em 1967-1968, publicou como manifesto uma lista de 84 verbos (“envolver”, “apoiar”, “cortar”, “dobrar”…) e 24 elementos de contexto (“gravidade”, “entropia”, “natureza”…), o que inclui todos os processos à sua disposição para a realização de uma obra.
Em seus primeiros trabalhos, utilizou borracha, fibra de vidro, látex e neon. Também projetou chumbo derretido entre muros e pisos, como em “Splash” (1968-1970).
No final da mesma década, ele criou uma obra fundadora de seu estilo, “One ton prop (House of cards)”, quatro placas quadradas de chumbo de 122 cm que permanecem equilibradas com o próprio peso, como um castelo de cartas.
A partir dos anos 1970, Serra passou a priorizar as instalações em áreas abertas e o aço Corten. A escolha deste material não foi arbitrária. Ele conhecia perfeitamente suas características e potencial depois de ter trabalhado em uma siderúrgica na juventude.
Serra desenhava esculturas especificamente para os espaços que iriam ocupar e tinha interesse em estudar a interação de suas obras com o meio ambiente.
“Certas coisas… ficam gravadas na imaginação e você tem a necessidade de reconciliação com elas”, afirmou Serra em uma entrevista ao apresentador Charlie Rose no início dos anos 2000.
Os jogos de equilíbrio, o peso do aço e a altura das placas criam no espectador uma sensação de insegurança, de pequenez, de vertigem. É uma experiência desestabilizadora e, em alguns momentos, irritante.
Em 1981, sua obra “Tilted arc”, uma gigantesca placa de metal de 3,6 metros de altura e 36,6 metros de comprimento instalada na ‘Federal Plaza’ de Nova York, incomodava tanto as pessoas que precisou ser desmontada oito anos depois, vítima de uma longa batalha judicial.
Uma de suas obras recentes, torres sombrias que parecem emergir da areia no deserto do Catar, está isolada nas dunas, acessível apenas em uma viagem de carro em um ambiente com temperaturas de até 50ºC.
“Quando você observa minhas obras, não lembra de nenhum objeto. Fica uma experiência, uma passagem. Experimentar uma das minhas peças é sentir uma noção de tempo, do lugar e reagir a isso. Não é lembrar de um objeto porque não há objeto para reter”, explicou o artista em 2004.
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